A VERGONHOSA PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO HAITI


 Publico, na íntegra, artigo de Mark Weisbrot sobre o controle absoluto imposto pelos Estados Unidos ao Haiti com a vergonhosa participação de tropas brasileiras. 

O articulista peca, no entanto, ao considerar que existe alguma diferença entre as direções políticas do Brasil e dos Estados Unidos. Ledo engano.Tanto Lula quanto Dilma usam descaradamente o poder como um instrumento de submissão do Brasil aos interesses imperiais e de inviabilização da constituição e chegada ao poder de qualquer força política que coloque por terra a subserviência do governo brasileiro aos interesses de Washington. 

As forças políticas atualmente no poder correspondem a tendências que desertaram da esquerda e não acreditam nem em soberania nem em socialismo. Apresentam-se como o melhor dos aliados do capitalismo porque vendem ilusões populistas às massas e asseguram os melhores negócios para o capital. O PT e seus aliados formam um governo dócil, com um verniz progressista e valores democráticos de fachada, mas, na verdade, criaram um paraíso para os banqueiros, os especuladores, os latifundiários, os corruptos e os bandidos de toda a espécie.

As tropas brasileiras no Haiti são uma mancha na história do Exército brasileiro, humilhado por sucessivos governos, completamente descompromissados com a criação de forças armadas democráticas, altamente capacitadas, com homens, armas e equipamentos de primeira linha. Sem dinheiro, sem armamentos modernos, sem condições de alimentar e alojar tropas suficientes, sem treinamento necessário, sem investimento em tecnologia, com a indústria bélica sucateada deliberadamente para que o país possa permanecer nas mãos da indústria norte-americana que nos vende equipamentos de segunda e nos oferece tecnologia obsoleta, o Brasil oferece uma sensação de falta de segurança. 

O exército brasileiro completamente desfigurado parece uma instituição sem alma própria, pois é treinado, adestrado e capacitado pelos Estados Unidos para servir aos interesses deles. Por isso a tentativa reiterada de transformá-lo em polícia, em instrumento de contenção das insatisfações populares. Processo infelizmente em curso. 

Triste lembrar o submarino construído por nossa Marinha afundando em pleno cais do porto, triste saber que a explosão da base de Alcântara teve uma investigação superficial, triste ver agora o exército testando inúteis foguetes Astros, algo próximo àquilo que os palestinos fazem artesanalmente.  Nós que já construímos o melhor tanque do mundo - o Osório, projeto criminosamente abortado pelos norte-americanos.

Tudo isso serve para provar que é uma questão de honra, de dignidade, afastarmo-nos das práticas sujas e criminosas dos Estados Unidos no Haiti (e em qualquer lugar do mundo).


Zantonc


Brasil precisa deixar o Haiti

Por Mark Weisbrot (*)

Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks deixam claro que as tropas estrangeiras que ocupam o Haiti há mais de sete anos não têm razão legítima para estar no país e que esta é uma ocupação americana, tanto quanto o são as do Iraque e Afeganistão.
Também mostram que faz parte de uma estratégia adotada pelos EUA há décadas para negar aos haitianos o direito à democracia e autodeterminação e que os governos latino-americanos que fornecem tropas -entre eles, o brasileiro- estão ficando cansados de participar.
Um documento americano vazado mostra como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda (equivalentes a R$ 50 bi na economia brasileira) porque vinha da Venezuela.
Como o presidente haitiano, René Préval, se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar do segundo turno o candidato apoiado por Préval.
Isso foi feito por meio da manipulação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de ameaças abertas de cortar o auxílio pós-terremoto concedido ao país desesperadoramente pobre, se ele não aceitasse a mudança. Tudo isso é amplamente documentado. As tropas da ONU foram levadas ao Haiti para ocupar o país depois de os EUA terem organizado a deposição do presidente haitiano democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, em 2004.
Cerca de 4.000 haitianos foram perseguidos e mortos no período que se seguiu ao golpe, sendo autoridades do governo constitucional detidas enquanto as tropas da ONU “mantinham a ordem”.
Outro documento vazado mostra como Edmund Mulet, o então chefe da missão da ONU (a Minustah), receou que Aristide pudesse reconquistar sua influência e recomendou que fossem registradas denúncias criminais contra ele.
Mulet vem sendo abertamente enviesado em suas interferências na política haitiana e tachou de “inimigos” os haitianos que se revoltaram com o fato de a missão ter levado o cólera ao Haiti. Hoje 380 mil haitianos foram contaminados pela doença, que já matou 5.800.
Se a Minustah fosse uma entidade privada, estaria encarando ações judiciais pedindo reparações de muitos bilhões de dólares, além de uma possível ação criminal em razão de sua negligência hedionda ao poluir as fontes de água do Haiti com essa bactéria mortífera.
Ironicamente, o custo anual da Minustah, US$ 850 milhões, é mais de nove vezes o que a ONU levantou para combater a epidemia. O Brasil não é um império, como os EUA, e não tem razão para ser parceiro júnior de um, especialmente em empreendimento tão brutal e censurável. Isso contraria tudo o que representam Lula, Dilma e o PT.
 Isso eviscera o potencial do Brasil de exercer liderança moral no mundo -algo que o país já demonstrou em muitas áreas, desde as mudanças históricas iniciadas sob a administração de Lula. Já passou da hora de o Brasil retirar suas tropas do Haiti.
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MARK WEISBROT, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net), e presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org), passa a escrever quinzenalmente às quartas-feiras na Folha de S. Paulo, onde este artigo foi publicado originalmente, em 20/07/2011.

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