O vale-tudo da Vale

O
jornalista Jeremias Vunjanhe, integrante da Justiça Ambiental – Amigos
da Terra Moçambique, foi impedido de entrar no Brasil para participar
como observador na conferência das Nações Unidas (ONU) sobre
Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada no Rio de Janeiro de 19 a
22 de junho (mais conhecida como Rio+20).
Jeremias
tinha previsto participar também da Cúpula dos Povos, paralela a da
ONU, e denunciar os diversos impactos negativos da mineradora brasileira
Vale em seu país, no III Encontro Internacional de Atingidos por essa
empresa. A Vale é uma das empresas que apoia a cúpula da ONU no Rio de
Janeiro. O ativista faria parte da delegação da Amigos da Terra
Internacional, federação ambientalista presente em cerca de 80 países.
Porém,
ao chegar ao aeroporto de Guarulhos em São Paulo, na terça-feira,
Jeremias foi interceptado pela Polícia Federal e teve o passaporte
retido, sendo levado à sala de embarque de volta para Moçambique.
Conforme as denúncias que está fazendo o NAT – Amigos da Terra Brasil,
com o apoio das organizações da Cúpula dos Povos, o ativista não recebeu
nenhuma explicação dos policiais. Somente após algumas horas de iniciar
o retorno a Moçambique o jornalista obteve seu passaporte de volta, com
o carimbo de “impedido” do Sistema Nacional de Procurados e Impedidos.
Rádio
Mundo Real conversou com Anabela Lemos, integrante da organização
Justiça Ambiental, que manifestou sua indiginação pela situação
enfrentada por seu companheiro. Considerou o fato “uma falta de
respeito” e disse que é mais um dos diversos ataques que tem estado
sofrendo sua organização nos últimos tempos. Anabela não descartou a
possibilidade de que o impedimento da entrada de Jeremias ao Brasil
esteja vinculada a seu trabalho de denúncia do agir da Vale em
Moçambique e de apoio às comunidades atingidas pela empresa. Justiça
Ambiental ainda não tem obtido uma resposta oficial sobre o que
aconteceu em São Paulo.
Justiça
Ambiental, e mais precisamente Jeremias Vunjanhe têm apoiado centenas
de famílias moçambicanas reassentadas pela mineradora brasileira Vale no
distrito de Moatize, província de Tete, que têm feito manifestações nos
últimos meses exigindo seus direitos.
Desde
2007, a Vale tem a concessão de um projeto de extração de carvão mineral
em Moatize, zona considerada, uma das maiores reservas de carvão
mineral do mundo. O empreendimento tem sido muito criticado por alguns
grupos nacionais, um dos motivos, por exempli, é porque desalojou 1.300
famílias. Justiça Ambiental tem visitado a zona e confirmado as
denúncias dessas famílias: estão em casas muito deterioradas, têm
dificuldades de acesso à água, à terra para as atividades agrícolas e a
meios de transporte para a atenção sanitária, dentre vários problemas. A
Vale não tem cumprido as promessas que fez no início da obra.
Inúmeras
organizações e movimentos sociais que têm gerado o espaço da Cúpula dos
Povos no Rio de Janeiro, que começa nesta sexta-feira, estão
manifestando sua solidariedade internacional e apoio à Justiça Ambiental
e a Jeremias especialmente. Com a liderança do NAT – Amigos da Terra
Brasil, a sociedade civil reunida para a Cúpula dos Povos já contactou a
Embaixada do Brasil em Moçambique e ao Cônsul do Brasil em Maputo,
capital moçambicana. Pedem que os verdadeiros motivos pelos quais o
jornalista não pôde entrar ao Brasil, e que haja um pedido de desculpas
formal. Enquanto isso, Justiça Ambiental já deixou claro que não
descansará até saber as causas deste caso, e nesta sexta-feira realizará
uma coletiva de imprensa em Maputo para denunciar a situação. Jeremias é
uma pessoa íntegra, um grande ativista social e ambiental, afirmou
Anabela na entrevista com Rádio Mundo Real.
Veja a
entrevista em vídeo que NAT – Amigos da Terra Brasil fez com Jeremias
Vunjanhe em setembro de 2010 na cidade de Viamão, Rio Grande do Sul,
durante a Escola da Sustentabilidade da Amigos da Terra da América
Latina e o Caribe. Na entrevista o ativista fala das ações da Vale em
seu país.
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