RIO DE JANEIRO

Covardia no Morro dos Prazeres, abaixo o portão da segregação!

 

 

Rio, 05.03.2012


           Para se chegar numa das vistas mais lindas do Rio de Janeiro, no bairro bucólico de Santa Teresa, são alguns degraus, uma ladeira e um caminho que levam ao paraíso do Morro dos Prazeres. Prazeres de pessoas generosas, amigas, de excelentes banquetes, cervejas geladas e a vista em 360 graus da cidade maravilhosa.
           Hoje, chocado, me deparei com a notícia da implementação de um portão de acesso, sem acesso aos moradores da favela e de uma suposta invasão e quebradeira, de pessoas mascaradas, com paus e pedras, no condomínio Equitativa, caminho para a favela. A notícia acusava moradores da favela, sem nenhuma prova. Uma suposição: Porque não pode ser exatamente o contrário, moradores do condomínio mascarados, promovendo a quebradeira, para criminalizar os moradores da favela e terem mais facilidade em implementar o portão da segregação. A grande mídia comprou a história do condomínio, mas nenhum morador da favela foi entrevistado. Essa é a imparcialidade da imprensa, que leva milhões de pessoas todos os dias a conclusões muitas vezes falsas.
               Se agora ter a posição contra o fechamento, por si só, configura crime, então não podemos falar mais em democracia e sim, em criminalização de todos os moradores da favela e visitantes que utilizam a passagem e que são contra a implementação de um portão de acesso, como eu e os companheiros da Agência de Notícias das Favelas.
             Outra questão extremamente grave foi a colocação de um portão, pelo condomínio, de forma unilateral. Isso sim é uma violência que impossibilita os moradores de alcançarem o alto do morro sem precisarem dar uma enorme volta por outro caminho. Estamos falando de pessoas idosas, mulheres e crianças que conseguem chegar à rua e ao ponto de ônibus para trabalharem, irem à escola, as compras, etc. Com o fechamento dessa passagem, as pessoas que moram no alto do morro, terão que descer e subir por enormes ladeiras e escadarias. Uma covardia num momento que se discuti tanto a integração das favelas com o asfalto.  Em nenhum momento a mídia tradicional questionou a colocação do portão, sem um consenso entre as partes envolvidas. O que parece mais uma vez é que o favelado não tem nenhum direito de existir, e estamos falando de uma favela ocupada por uma UPP, ou seja, com a presença e “controle” do estado. Com a manutenção desse portão o que vai ser legitimado é o interesse apenas de um lado e a perda em direitos para o lado mais pobre e fraco.
              Para quem pensa que com a manipulação da grande mídia, a população está ganha para essa covarde segregação, está muito enganado. Para nós, não vai existir futuro de paz enquanto o pobre favelado continuar sendo tratado como um animal.  Por isso exigimos a imediata retirada do portão e o respeito aos moradores do Morro dos Prazeres!

 FONTE: www.anf.org.br


RJ torra milhões no Maracanã para entregar à iniciativa privada. Absurdo



 

O Maracanã está em reformas. Pelo menos algo perto de R$ 900 milhões serão torrados em mais uma remodelação do estádio que viveu várias outras transformações nos últimos anos, a mais recente para os Jogos Pan-americanos de 2007. E como a Secretária de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro, Márcia Lins, já adiantava em setembro do ano passado neste blog, ele será mesmo entregue a um dono. Sim, o estádio passará por um processo de privatização depois de centenas de milhões de reais oriundos dos impostos serem ali enterrados.

Claro, óbvio, evidente, que o mais razoável seria termos dinheiro privado bancando a reforma, ou pelo menos a maior parte dela. O que estão fazendo com a grana do contribuinte? Praticamente reconstruindo algo caro e grandioso para, depois, deixar alguém explorar e lucrar com a obra paga pela verba pública. Em evento promovido pelos jornais O Globo e Extra, Márcia Lins afirmou: “A concessão será feita até meados do ano que vem, antes mesmo da Copa das Confederações”.

As obras, diz a secretária, terminarão em fevereiro de 2013, e vão custar R$ 860 milhões. E mais: antes mesmo de ser entregue para os jogos de futebol, o (ex)Maracanã será cedido à iniciativa privada, que não põe um centavo sequer desse quase meio bilhão de dólares do nosso dinheiro e que sustentam as transformações exigidas pela “Dona” Fifa. “A concessão será feita até meados do ano que vem, antes mesmo da Copa das Confederações”, disse ela.

Os argumentos da secretária são frágeis como um castelo de areia. No ano passado, ela tentou justificar a curiosa estratégia, pagar a reforma para depois entregar a terceiros, a particulares — clique aqui e veja o vídeo da entrevista feita em setembro de 2010. Agora ela insiste que “apesar do investimento alto no início, ganharemos depois com a economia na manutenção. Acreditamos que ele terá sua receita quadriplicada no futuro”.

Sim, ela acredita. Eu não, e você? Será que a palavra da secretária é o bastante? Por onde andam as provas concretas, reais, verossímeis, de que esse dinheiro virá? É assim que se deve administrar o dinheiro público? Por que não foi feita uma verdadeira parceria-público-privada, com os interessados bancando a obra ou parte significativa da mesma para depois terem o direito de explorar o estádio?

Sequer é original o argumento de que o Estado economizará ao entregar a um novo dono o Maracanã estuprado pelas exigência de Sepp Blater e seus Blue Caps. Querem dar ao antigo templo do futebol o mesmo destino do Engenhão, que consumiu perto de R$ 380 milhões antes do Pan 2007 e foi parar nas mãos do Botafogo por R$ 36 mil mensais. Se fossem prestações fixas e sem juros, em 88 anos (em 2095) o clube devolveria o valor investido na construção. A concessão vai até 2028.

Sim, claro, o Estado também dirá que ao entregar o estádio nas mãos da iniciativa privada irá economizar com a manutenção, que deixará de ser de sua responsabilidade. Foi o mesmo argumento utilizado pelo ex-prefeito César Maia ao repassar o Engenhão ao Botafogo. Em 14 de novembro de 2008, questionado a respeito por este blog, Maia respondeu por e-mail: “O que a prefeitura recebe não é o aluguel, mas o custo que deixa de pagar”.

Pena que no Brasil os governantes não tenham que justificar como autorizam uma obra cara com dinheiro dos contribuintes e depois não sabem o que fazer com ela. E para se livrar do prejuízo, entregam ao primeiro que aparece, como se os milhões ali investidos não pertencessem a ninguém, ou seja, não fosse dinheiro que deveria melhorar as condições de vida da sociedade.

Hoje o Botafogo lucra com o Engenhão, em parte em função da interdição do Maracanã, mas lucra. Serão cerca de R$ 7,5 milhões no ano até o final de 2011. Claro que alguém lucrará com o estádio da Copa. Eu e você apenas pagamos a conta. E ainda querem aplausos por isso? Mais eleições virão. Quando votar, pense a respeito.

(*) Mauro Cezar Pereira é jornalista dos canais ESPN/ESPN Brasil e Rádio Estadão/ESPN. Texto reproduzido do blog: http://espn.estadao.com.br/maurocezarpereira

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