È notável a atualidade da metáfora "tigre de papel" criada por Mao-tsé-tung para fazer referência ao poder dos Estados Unidos. Mesmo concebido em uma época em que ainda existia o bloco socialista, o que relativizava o poder norte-americano, a definição cabe como uma luva também ao momento atual em que o império sofre de gigantismo e apresenta crescente dificuldade em gerenciar crises sucessivas. Para aqueles que sofrem com a ação nefasta do poder imperial, ele se apresenta como um poder terrível e, simultaneamente, destinado ao fracasso.
" (...)
Agora
o imperialismo norte-americano parece bem poderoso, mas na realidade
não é. É muito fraco politicamente porque está divorciado das massas do
povo e é antipatizado por todos, e até pelo povo norte-americano. Na
aparência é muito poderoso, mas na realidade não é nada a se temer: é um
tigre de papel.
(...)
Quando
dizemos que o imperialismo norte-americano é um tigre de papel, estamos
falando em termos de estratégia. Considerado em seu todo, devemos
desprezá-lo, mas considerando cada parte, devemos tomá-lo seriamente.
Ele tem presas e garras. Devemos destruí-lo gradualmente. Por exemplo,
se tiver dez presas, quebre uma da primeira vez, e restarão nove; acabe
com a outra, e restarão oito. Quando todas as presas estiverem
destruídas, ele ainda terá as garras. Se tratarmos disso passo a passo e
com seriedade, certamente venceremos no final.
Estrategicamente,
devemos desprezar por completo o imperialismo norte-americano.
Taticamente, devemos levá-lo a sério. Lutando contra ele, devemos
encarar cada batalha, cada encontro, com seriedade. Atualmente, os
Estados Unidos são poderosos, mas quando examinados em perspectiva mais
ampla, como um todo e do ponto de vista de longo prazo, eles não tem
apoio popular, suas políticas não são simpáticas ao povo, que eles
oprimem e exploram.
(...) "
TSE-TUNG, Mao. Sobre a prática e a contradição. Apresentação por Slavoj Zizek; tradução José Maurício Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. p. 137.
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