Dois líderes do Projeto Agroextrativista (Paex) Praialta-Piranheira foram assassinados na manhã desta terça feira, 24/05/2011, na comunidade de Maçaranduba, a 50 km do município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, vinham sendo ameaçados desde 2008. O casal era líder dos assentados do Projeto Agroextrativista Praia Alta da Piranheira, onde vivem cerca de 500 famílias. Segundo familiares, pessoas desconhecidas rondavam a residência do casal, geralmente à noite, disparando tiros para o alto. Algumas vezes, até alvejaram animais da propriedade.
As intimidações teriam começado com a denúncia dos líderes extrativistas contra madeireiros da região, que constantemente avançam na área do Paex para extrair espécies madeireiras nobres, como castanheira, angelim e jatobá. O casal chegou a informar ao Ministério Público Federal de Marabá nomes de madeireiros de Jacundá e Nova Ipixuna que faziam pressão sobre os assentados e invadiam suas terras para retirar madeira ilegalmente. As denúncias foram encaminhas à Polícia Federal e ao Ibama. Um inquérito foi aberto para investigar várias madeireiras da região e algumas vistorias chegaram a ser feitas pelo Ibama, que detectou a extração ilegal de madeira e interditou algumas serrarias.
Apesar de terem denunciado as ameaças sofridas a autoridades nacionais e internacionais, nunca receberam proteção. Para Atanagildo Matos, diretor da regional Belém do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a morte de José Cláudio e Maria é uma perda irreparável.
"Eles nos deixam uma lição, que é o ideal dos extrativistas da Amazônia: permitir que o 'povo da floresta' possa viver com qualidade, de forma sustentável com o meio ambiente", disse. Ele revelou que a entidade contatou o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e outras instituições. "Apoiaremos fortemente as investigações, para que esse crime não fique impune."
Trabalho
O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna e integravam do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes. Desde que começaram a viver juntos, tentavam mostrar que era possível viver em harmonia com a floresta, de forma sustentável. "O terreno deles tinha aproximadamente 20 hectares, mas 80% era área verde preservada", afirma Clara Santos, sobrinha de José Cláudio. "Eles extraíam principalmente óleos de andiroba e castanha, além de outros produtos da floresta para sua subsistência."
O Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAEX) Praialta-Piranheira situa-se à margem do lago da hidrelétrica de Tucuruí. Foi criado em 1997 e possui atualmente uma área de 22 mil hectares, onde encontram-se aproximadamente 500 famílias. Além dos óleos vegetais, o açaí e o cupuaçu, frutas típicas da região, garantem a renda na comunidade.
Fórum da Amazônia Oriental
O Fórum da Amazônia Oriental (Faor) divulgou nota manifestando "sua indignação com o assassinato das lideranças do Conselho Nacional das Populações Extrativistas". Antidade apontou que "José Cláudio, a muito estava marcado para morrer, desde que começou a denunciar o desmatamento e a extração ilegal de madeira na região". "O Faor exige publicamente que as autoridades competentes, investiguem esse crime com seriedade e prendam os criminosos (mandantes e executores) para que esse não seja mais um crime a fazer parte da imensa lista de impunidade que assola o nosso Estado. O Faor aproveita para declarar a sua solidariedade aos familiares das vítimas, ao CNS e reafirmar aqui o nosso compromisso em defesa da vida, da justiça e das populações tradicionais da Amazônia", diz o texto.
Morte anunciada
Em nota, organizações e movimentos sociais do Pará manifestaram sua tristeza e revolta com a morte dos dois extrativistas. “Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?”, protestam.
Em um vídeo gravado recentemente, o líder camponês falava sobre as ameaças que vinha recebendo. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci”, alertava Zé Castanha.
A presidenta Dilma Roussef determinou que o ministro Gilberto Carvalho, da secretaria-feral da Presidência da República, acompanhe as investigações dos assassinatos.
O Ministério Público Federal enviou ofício para a Polícia Federal pedindo que também acompanhe as investigações.
A Polícia Civil do Pará ainda não tem pistas dos assassinos e dos mandantes do crime. Zé Castanha teve uma de suas orelhas arrancada, podendo ter sido levada como prova do “serviço executado”, conforme informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
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