Alunos do Colégio Pedro II mortos pela ditadura são homenageados no Rio de Janeiro

Após um abaixo assinado de professores, alunos e entidades civis, a Congregação do Colégio Pedro II decidiu por retirar o nome do Almirante Haedemaker do prédio daquela entidade.
Haedemaker foi Ministro da Marinha e integrante da junta militar que governou o País entre agosto e outubro de 1969, durante a ditadura.
O prédio havia recebido o nome do almirante durante a ditadura militar e agora a Congregação do Colégio Pedro II decidiu pela retirada.
Como atividade de greve, depois da retirada do nome, sem pompa ou circunstância, foi programada também para 4ª feira dia 31 às 10 horas, no Prédio da Direção Geral em São Cristóvão, cidade do Rio de Janeiro, uma primeira homenagem aos alunos mortos pela repressão nos anos de chumbo. Convidamos alunos, ex-alunos, representantes dos movimentos sociais, enfim, todos os que participaram daquele momento para contar aos jovens alunos e professores de hoje, a história dos bravos guerreiros do Pedro II. As pessoas poderão se manifestar, estabelecendo uma ponte entre o passado e o presente da luta pela liberdade. O mais importante será o planejamento para a ampliação da homenagem, com sugestões e a participação de todos.
 
Helena Godoy, professora.  A luta apenas começou!
 
Nos arquivos do Grupo Tortura Nunca Mais e no “Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964” encontramos as seguintes informações sobre esses ex-alunos do Colégio Pedro II:

ALEX DE PAULA XAVIER PEREIRA (CPII – Humaitá até 1969)

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN). Nasceu em 09 de agosto de 1949, filho de João Baptista Xavier Pereira e Zilda Xavier Pereira. Foi morto aos 22 anos de idade.
Participou do movimento estudantil secundarista e foi diretor do Grêmio do Colégio Pedro II, no Rio, em 1968, junto com Aldo Sá Brito, Luiz Afonso de Almeida e Marcos Nonato da Fonseca, também mortos na luta contra a ditadura militar. Conheceu desde cedo a perseguição e a repressão que atingiu sua família com o golpe militar de 1964 e ingressou, ainda muito jovem, no PCB.Q
uando dentro do PCB surgiu nova perspectiva revolucionária, alinhou-se com aqueles que defendiam a luta armada contra a ditadura, unindo-se ao grupo liderado por Carlos Marighella e ingressando na ALN. Logo tornou-se chefe de um Grupo Tático Armado da ALN, empreendendo intensa atividade política. Passou a viver na clandestinidade e respondeu a alguns processos policiais- militares. Foi fuzilado em 20 de janeiro de 1972, por policiais pertencentes à Equipe B do DOI/CODI-SP, quando se encontrava em um carro junto com Gelson Reicher, igualmente assassinado. A nota oficial divulgada pelos órgãos de segurança descrevia a morte de Alex e Gelson como conseqüência de um tiroteio nas imediações da Av. República do Líbano, em São Paulo, em decorrência de um acidente com o carro dos mesmos, acidente este que, segundo os moradores do local, nunca aconteceu.(1995: 131).
 
LUCIMAR BRANDÃO GUIMARÃES (CPII – Sede até 1969):

Militante    da    V ANGUARDA    ARMADA    REVOLUCIONÁRIA    (V AR- P ALMARES). Nasceu em Lambari, sul de Minas, no dia 31 de julho de 1948,onde passou sua infância. Estudou no Colégio Pedro II, participou da Juventude Estudantil Católica –JEC – e foi líder estudantil secundarista no Rio de Janeiro. Militante do PCB, de onde saiu para uma dissidência chamada Núcleo Marxista Leninista – NML – e, posteriormente, filiou-se à – VAR- Palmares. Saiu do Rio de Janeiro em fins de 1969, indo morar em Belo Horizonte.Usava os codinomes de Calixto e Antunes que acabaram virando Calixto Antunes, no momento de sua prisão, em Belo Horizonte. Foi preso no dia 26 de janeiro de 1970, no apartamento onde residia, com os companheiros José Roberto Borges Champs, Antônio Orlando Macedo Ferreira, João de Barros e Artur Eduardo Consentino Alvarez.
Foi visto pela última vez pelos seus companheiros quatro dias depois de sua prisão, quando chegava escoltado à penitenciária Magalhães Pinto, em Neves. Submetido à tortura teve a coluna vertebral quebrada, o que o manteve deitado até sua morte, no dia 31 de agosto de 1970, no Hospital Militar de Belo Horizonte (1995: 87).
 
JOSÉ ROBERTO SPINGER (CPII – Sede até 1966)

Militante do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 8 DE OUTUBRO (MR- 8). Nasceu em 30 de dezembro de 1948, em Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro. Já no antigo ginásio e científico, no Colégio Pedro II, José Roberto começou a participar do movimento estudantil, atuando no Grêmio. Estudou também na Aliança Francesa e Cultura Inglesa, fazendo vários outros cursos como cinema e jornalismo. Participou de um concurso de cinema amador de curta metragem, ficando em 1o lugar115. Em 1966, entrou para a Faculdade de Economia da UFRJ sendo aprovado em 1o lugar, passando a militar no Diretório Acadêmico. Ingressou, à época, no MR-8 e, em 1968, pelo agravamento geral da situação do país, entrou na clandestinidade. Em 17 de fevereiro de 1970, foi morto em tiroteio, no Rio de Janeiro, na Rua Joaquim Silva, n° 53, entrada 05, quarto 08, por agentes do DOI/CODI/RJ. O corpo de José Roberto entrou no IML, pela Guia n° 01 do DOPS/RJ, sendo necropsiado pelos Drs. Ivan Nogueira Bastos e Nelson Caparelli que confirmam a morte em tiroteio e retirado por seu cunhado, Sérgio Leão Klein, sendo enterrado pela família no Cemitério Comunal Israelita de Vila Rosali (RJ) (1995: 85).
Sua irmã, Marilene Spigner, assim fala de José Roberto:
“Desde muito cedo, inconformado com as diferenças sociais e dedicado às leituras filosóficas, passou a defender seus ideais no Grêmio do Colégio Pedro II e no jornal do colégio, veículo dos jovens daquela geração” (1995: 86).
 
KLEBER LEMOS DA SILVA ( CPII – Seção Norte até 1963)

Militante do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).Nasceu em 21 de maio de 1942, no Rio de Janeiro, filho de Norival Euphrosino da Silva e Karitza Lemos da Silva. Desaparecido na Guerrilha do Araguaia em junho de 1972. Participou do movimento estudantil da década de 60 e em princípios de 70, já formado em Economia, foi residir na região do Araguaia, na localidade de Caiano, onde já residiam outros companheiros, incorporando-se ao Destacamento B da Guerrilha. O Relatório do Ministério
115 O nome de José Roberto Spiegner aparece no jornal Vanguarda Estudantil de 1965 como um dos redatores-chefe, no exemplar de 1966 como colaborador e também nas reportagens sobre os filmes realizados pelo Grêmio Científico e Literário Pedro II para os festivais de cinema amador que ocorreram naqueles anos.
Em 1965 o “filme do aluno do Pedro II, Daniel Chutorianscy, “Manequinho” ganhou o segundo prêmio do Festival Amador do Jornal do Brasil, na mesma ocasião, outros dois filmes, “Caminho”, que ganhou um premio especial, de Sergio Rubens e “À Beira da Realidade” de José Roberto Spiegner e de Antonio Carlos Lengruber, também realizados por alunos do CP II, participaram do Festival”.(1965: 3).Em 1966 outros dois filmes foram produzidos pelo Grêmio Científico e Literário Pedro II, para o Festival de Cinema Amador JB – Mesbla. O filme “Terceiro Tempo”, realizado por Daniel Chutorianscy, Ronald Dreux e Celso Silva, fala sobre o futebol enquanto válvula de escape do povo brasileiro. O filme “Canção Urbana”, realizado por José Roberto Spiegner, Antonio Carlos Lengruber, José Paulo Kupfer, Ronald Dória Dreux e Sérgio Rubens Torres. Inspirado no poema mesmo nome, de Fernando Mendes Vianna , quer, de acordo com a sinopse, “observar o trabalhador. Mostrá-lo. seu trabalho, seu comportamento, suas divisões, amigos e locais costumeiros, onde passeia, seus grupos, suas praças.são eles ainda retratados na busca do sexo oposto como possível escape (...) . Inspirado no poema que diz: “ os pares entrelaçados / nesta urbe dividida / são brados de luz nos ares / de uma terra escurecida”.(...) (1966: 3)
do Exército diz que Kleber era “militante do PCdoB, participou da Guerrilha do Araguaia, foi morto no dia 29/01/72 em confronto com uma patrulha, sendo sepultado na selva sem que se possa precisar o local exato”. Esta informação tem pelo menos um equívoco, pois os confrontos armados no Araguaia só tiveram início a partir do dia 12 de abril de 1972. Já Relatório do Ministério da Marinha diz que “foi preso quando se encontrava acampado na mata” (1995: 330).

Fernando AugustoFERNANDO AUGUSTO DA FONSECA (CPII – Humaitá até 1969)

Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Filho de José Augusto Valente da Fonseca e Nathaly Machado da Fonseca, nasceu no Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1947. Casado, tinha 2 filhos. Concluiu o 2o grau no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Estudava economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhava no Banco do Brasil (Agência Central). Foi demitido por abandono do emprego quando, em 1970, foi obrigado a viver na clandestinidade pela perseguição implacável que lhe moviam os órgãos de segurança. Militou na Corrente e no PCBR, chegando a ser membro do seu Comitê Central. Preso em Recife na 2a quinzena de dezembro de 1972, levado para o DOI/CODI/RJ, onde passou a ser torturado. Na ocasião, sua mulher Sandra Maria Araújo da Fonseca, e seu filho André (com cerca de 2 anos de idade) foram presos no DOPS/RJ. No Rio de Janeiro, já haviam sido presos 3 companheiros de Fernando Augusto: José Silton Pinheiro, José Bartolomeu Rodrigues de Souza e Getúlio d ́Oliveira Cabral, todos igualmente torturados (1995: 144).
 
Marcos NonatoMARCOS NONATO DA FONSECA (CPII – Humaitá até 1969):

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).Nascido a 01 de junho de 1953 na cidade do Rio de Janeiro, filho de Otávio Fonseca e Leda Nonato Fonseca. Estudante secundarista foi morto aos 19 anos pelo DOI- CODI/SP. No final dos anos 60, Marcos era mais um estudante secundarista do Colégio Pedro II / Humaitá. De origem humilde, cuidava dos irmãos menores quando voltava do Colégio, enquanto seus pais trabalhavam: ela, como manicure, ele, como cozinheiro. Morava numa casa muito simples em São Conrado. Admirava a vida e a obra de D. Helder Câmara em favor dos necessitados. Assim como aconteceu com vários outros naquela época, Marcos envolveu-se com as lutas estudantis contra a ditadura militar. O ano de 1969 foi decisivo para muitos: após o AI-5, Marcos escolheu manter-se na luta e passou a ser perseguido; foi obrigado a sair de casa no final de 1969 e abandonar o convívio com a família para viver clandestinamente, aos 16 anos, com seus companheiros de luta. Através da informação fornecida pelo alcagüete Manuel  enrique de Oliveira, dono do Restaurante Varella, na Moóca, em São Paulo, a repressão montou uma emboscada, no dia 14 de junho de 1972, que resultou na sua morte e de Ana Maria Nacinovic Corrêa e Iúri Xavier Pereira. (1995: 166).
“Estou escrevendo novamente, depois de um longo tempo sem mandar notícias. (...). O povo Perdeu combatentes de valor, como Marighella, Câmara Ferreira, Lamarca e tantos outros. Mas apesar disso, nossa luta não terminou, porque é a luta de um povo contra seus opressores... Estou me lembrando que amanhã vão fazer dois anos em que estivemos juntos pela última vez. Foi numa passagem de ano de 69 para 70... Não me arrependo do caminho que escolhi... Até uma outra vez”.
Seu saudoso filho, Marcos Nonato Fonseca. Brasil, 30 de dezembro de 1971”
 
Lincoln BicalhoLINCOLN BICALHO ROQUE

Dirigente do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).
Nasceu em São José do Calçado no Espírito Santo no dia 25 de maio de 1945.
Foi morto aos 28 anos. Cursou o  segundo grau no Colégio Pedro II.
Em abril de 1968, por suas atividades políticas, foi compulsoriamente aposentado



 
ADCPII Associação de Docentes do Colégio Pedro II
secretaria@adcpii.com.br

Fontes: Rede Democrática e Ousar Lutar! Ousar Vencer!

Comentários

Ana Lúcia disse…
Eles estavam na guerrilha. Quem se dispõe de armas, corre o risco de ser morto por elas. Meu pai foi morto por um deles e à ele só foi dada uma salva de tiros à hora de seu enterro e as lágrimas de minha mãe. Essas pessoas não foram mortas dentro do Colégio Pedro II e nem foram obrigadas a estar lá para sustentar suas famílias. Morreram devido às suas escolhas, morreram porque se expuseram à morte e suas famílias foram indenizadas com milhares de reais. E a minha família? Ah... a minha não interessa, afinal o meu pai era só um PM. Absurdo!
Lamentamos a morte do seu pai. Infelizmente você não achou importante dar o nome dele, a autoria do crime e as circunstâncias da morte. O que causa estranheza. Lamenta a morte do pai e o deixa em pleno anonimato! Toda morte é uma forma de empobrecimento da humanidade. Acusar ex-alunos de tê-lo matado sem fornecer nenhuma prova é, no mínimo, leviano. Os ex-alunos não morreram por causa de escolhas, ao contrário morreram justamente por não terem escolhas, morreram nas mãos de torturadores, quando estavam sobre a guarda do Estado. Morreram por que ousaram lutar contra a ditadura. Morreram por que acreditaram num país melhor. Pagaram com a vida pela ousadia. É uma pena que, segundo o que você escreveu, seu pai tenha ficado ao lado da ditadura.

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