PROTESTO NO CHILE CONTRA A CONSTRUÇÃO DE HIDROELÉTRICA NA PATAGÔNIA

Chilenos denunciam truculência policial em protestos contra hidroelétrica na Patagônia

Milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades chilenas para protestar contra a aprovação, nesta segunda-feira (09/05), de um mega projeto hidroelétrico, pela Comissão de Avaliação Ambiental da região de Aysen, no sul do país. Cerca de 60 pessoas foram presas em Santiago, entre elas um deputado e a diretora de uma organização ambiental.

Efe (09/05/11)


Chilena é detida durante manifestação em Santiago contra a criação de hidrelétrica


As manifestações foram convocadas através das redes sociais, após a confirmação de que a construção de cinco represas do projeto Hidroaysen na Patagônia, foi aprovada por 11 votos a favor e um contra. Os protestos transcorreram pacificamente durante as primeiras horas, mas, em algumas cidades, terminaram com confrontos entre manifestantes e a polícia chilena (carabineros).


Sara Larraín, diretora da organização ambiental Chile Sustentable, denunciou uma conduta “abusiva” dos carabineros durante os protestos. “Esta é a política de [Rodrigo] Hinzpeter, [ministro de Interior e Segurança Pública do Chile], do presidente [Sebastián] Piñera, diante de manifestações ambientais pacíficas”, afirmou à imprensa local, enquanto era transportada, algemada ao lado de sua filha, em um ônibus policial. 
 

Manifestação na Plaza Italia e entrevista com Sergio Aguiló:


Outro detido pela força de segurança foi o deputado do Partido Socialista, Sergio Aguiló, colocado à força em um furgão por quatro carabineros. Em declarações à
CNN Chile, o deputado afirmou que foi preso enquanto aplaudia discursos na Praça Itália, epicentro da manifestação em Santiago.

“Não estávamos fazendo nada, era uma marcha de jovens estudantes, completamente pacífica, e chegaram com uma violência extrema”, afirmou o deputado. Segundo relatos de testemunhas e imagens transmitidas pela televisão local, os carabineros tentaram dispersar a multidão com gás lacrimogêneo, jatos de água e efetivos a cavalo.


“Estávamos protestando pacificamente. Um homem começou a bater em um carro e nos juntamos para impedi-lo. Não queríamos delinquentes sujando nossa reivindicação”, esclareceu ao
Opera Mundi a jornalista chilena Jessica Navarro. “Mesmo sem provocações, nos encurralaram. Não tínhamos para onde escapar. Eu chorava muito e não conseguia respirar por causa do gás. Uma senhora caiu e teve que ser ajudada”, descreveu.
 
A forte rejeição cidadã à aprovação do complexo hidroelétrico foi motivo de milhares de manifestações na rede social Twitter, onde o assunto rapidamente se posicionou como um dos mais comentados pelos usuários chilenos e argentinos. Diversos caracteres de protestos foram realizados, principalmente durante o ano passado, paralelamente às manifestações contra a aprovação da construção de termoelétricas a carvão no país.

Um dos mais importantes deles foi a circulação de notas de pesos chilenos com os dizeres “Patagônia sem represas”, que conscientizou muitos sobre a dimensão do projeto hidroelétrico. Inicialmente, HidroAysén inundaria 30 mil hectares no sul do país para a formação de represas, proposta que após restrições ambientais, foi restringida a 5 mil hectares. O argumento da empresa responsável pelo complexo é que o complexo contribuirá com um aumento da produção de energia chilena em 2.750 megawatts.


Reprodução


Nota de peso chileno com a frase "Patagônia sem represas", em referência à hidroelétrica de HidroAysén


Ponto controverso


Um dos pontos mais controversos apontados por organizações ambientais, no entanto, é a instalação de uma rede de transmissão de 2.200 quilômetros, que atravessaria nove regiões do país, para levar a eletricidade até a capital. A avaliação do Estudo de Impacto Ambiental desta fase do projeto consiste agora na única pendência para o início definitivo das obras do complexo.


O engenheiro ambiental da consultora Carbo-Ambiente, Álvaro Molina, afirmou ao
Opera Mundi que a rede de transmissão será um “experimento”: “Ultrapassa todos os limites seguros de tamanho das torres de alta tensão, que cruzariam mais de 1900 quilômetros de florestas nativas”, lamentou.

Em entrevista à
CNN Chile, o diretor do GreenPeace Chile, Matias Asún, afirmou que a zona afetada com a inundação de terrenos e com a instalação da rede de transmissão será de mais de 29 mil hectares e que os dados não estão consignados em nenhuma das apresentações feitas pela empresa à  Comissão de Avaliação Ambiental. “O projeto aprovado tem uma série de irregularidades e apresentar as mesmas à justiça, como já estamos fazendo, à medida que as detectamos”.

Segundo ele, a precisão sobre as zonas impactadas pelo projeto depende de quais regiões serão cruzadas pela rede de transmissão. “As versões variam entre 8 e 11 parques nacionais afetados e cerca de 67 municípios serão afetados”. De acordo com ele, a empresa apresentará este projeto em dezembro. “Temos vários meses para continuar com a investigação, que será avaliada por alguns membros do poder legislativo”, afirmou.


Asún garantiu também que a empresa Hidroaysén iniciou uma série de medidas de investigação, mas que as mesmas “não são suficientes”. “Os custos ambientais da diminuição [do nível] dos rios [Baker e Pascua] e da instalação das turbinas em termos turísticos e de potencial de desenvolvimento das regiões são gigantescos e não podem ser mitigados”, afirmou.





 

Publicidade

Para diminuir a rejeição da sociedade ao projeto, a empresa responsável pela Hidroaysen investiu em uma forte campanha publicitária, alertando para o fato de que em alguns anos, o país entraria em colapso devido à falta de energia elétrica. Até mesmo os veículos de imprensa mais críticos ao governo de Sebastián Piñera e abertos aos debates ambientais, como
The Clinic e El Mostrador, passaram a estampar em suas páginas os anúncios da empresa.

No caso do
The Clinic, o anúncio era posicionado na página oposta à da campanha da organização Patagônia Sem Represas, que também colocou em prática o uso dos veículos para a conscientização sobre as implicações ambientais da construção do complexo hidroelétrico.

 

 


De acordo com declarações do engenheiro do Departamento de Estudos de Geotermia, Tomás Neira , sobre a demanda energética do país, a projeção é de que em 2015, o abastecimento energético do Chile dependerá da instalação de fontes que produzam pelo menos 60 mil megawatts, o que equivale “a duas termoelétricas a carvão, uma usina nuclear, três centrais geotérmicas ou uma hidroelétrica do porte da Hidroaysen”.

Para Asún a necessidade futura de energia do país alardeada pela empresa e pelo governo “é inegável”. “Mas temos que pesar em quanta energia é necessária e que matriz será utilizada. Sempre nos ameaçam como energia nuclear ou a carvão”, avaliou o ambientalista.


Dados levantados pela organização Chile Ambiente revelam que o setor mineiro utiliza mais de 32% da eletricidade gerada no Chile e, ao lado do setor industrial, supera 66% do consumo total. A demanda residencial não chega a 20% da produção energética.


“Temos um documento publicado que afirma que com um pouco de economia no consumo energético mineiro, poderíamos evitar a central Castilla”, afirmou Asún, sobre o complexo termoelétrico do empresário brasileiro Eike Batista, no norte do país, cuja construção foi autorizada em fevereiro, e que gera controvérsias por utilizar seis usinas a base de carvão mineral.


FONTE: http://operamundi.uol.com.br/

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