O NEW YORK TIMES DEFENDE ASSASSINATOS



Patrick Martin, 11 de outubro de 2010.

Tradução do inglês: Zantonc


Em seu editorial do último do domingo, o New York Times, o porta-voz do liberalismo nos Estados Unidos, defendeu abertamente o direito do governo norte-americano de assassinar qualquer um que o desagrade. A única restrição proposta é que a lista de alvos do governo deveria ser referendada por um tribunal secreto, semelhante ao que atualmente aprova 99,99 % dos pedidos de escuta telefônica.

A apologia da morte começa por uma mentira descarada sobre o programa de assassinatos desenvolvido pelo EUA com mísseis disparados de aeronaves teleguiadas (drones) operadas pela CIA  ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Citando fontes oficiais do governo norte-americano o jornal afirma: “O programa drone tem sido eficaz, matando mais de 400 membros da Al Qaeda só este ano, de acordo com autoridades americanas, apenas 10 mortos não eram combatentes”.

Na verdade, funcionários do governo paquistanês estimam o número de civis mortos pelos ataques com drones, só em 2009, em mais de 700 pessoas, número que esse ano aumentou consideravelmente, já que o governo Obama tem intensificado o bombardeio da região fronteiriça entre os dois países.
Uma reportagem do jornal paquistanês Dawn revelou que “para cada membro da Al Qaeda e do Talibã mortos por drones americanos, cerca de 140 paquistaneses inocentes foram mortos. Mais de 90% dos mortos nos ataques com mísseis eram civis,  segundo autoridades paquistanesas”. 

Os editores do NYT não podem ignorar esses valores amplamente conhecidos, pois os seus próprios jornalistas relataram o número de vítimas dos ataques de mísseis dos EUA ao Paquistão: cerca de 500 em abril de 2009 e entre 100 e 500 até abril de 2010. Os editores mentem descarada e deliberadamente a fim de esconder o seu endosso à matança generalizada de muçulmanos.

O editorial afirma que os ataques de drones são legais e amparados pela lei internacional de autodefesa, porém tal opinião é categoricamente rejeitada por organizações de direitos humanos e por quase todos os especialistas em direito internacional. Só advogados a serviço da CIA e do Pentágono compartilham de ponto de vista semelhante ao do NYT sobre esse suposto direito.

Os Estados Unidos não estão em guerra contra o Afeganistão, o Paquistão, a Somália e o Iêmen, não obstante mísseis americanos têm atingido esses países, matando cidadãos inocentes.

Em relatório de 29 páginas apresentado em junho ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, Philip Alston, o Relator Especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, rejeitou a teoria da “autodefesa preventiva” utilizada pelos governos Bush e Obama, além de Israel, e condenou a morte de um pessoas fora do quadro de uma guerra real.

Alston ainda apontou as consequências para o perigo dessa doutrina se tornar universal: “Se for invocada por outros países em busca de indivíduos ou organizações que julgam ser terroristas  abrigados em outros territórios, provocará o caos”. 

O NYT admite: "não é da competência do comandante-em-chefe pura simplesmente declarar alguém em algum lugar um combatente e matá-lo, sem a menor fiscalização prévia independente". O editorial afirma que tais assassinatos arbitrários podem ser prevenidos através de garantias processuais de caráter puramente cosméticas. Dentre tais garantias o jornal afirma que a administração Obama tornar públicos "seus padrões para colocar as pessoas em lista de terroristas ou de assassinato", limitando seus alvos  "somente às pessoas que estão planejando ativamente ou participando de terror, ou que são líderes da Al-Qaeda e dos talibãs", capturando-as, sempre que possível, em vez de matá-las.

Os editores insistem que, no caso de cidadãos dos EUA, "o governo precisa empregar algum processo legal antes de privar alguém da vida ", acrescentando que "se for exequível, os Estados Unidos devem obter permissão de um governo estrangeiro antes de realizar um ataque em seu território. " 

O editorial do NYT admite que, no conhecido caso de Anwar al-Awlaki, clérigo muçulmano nascido nos EUA e que agora vive no Iêmen, a administração Obama tem agido de forma diametralmente oposta ao processo que o jornal alega defender. Awlaki tem sido alvo de várias tentativas de assassinato, com base em critérios secretos. O Departamento de Justiça chegou a ir à justiça para fazer valer o "segredo de Estado", privilégio para anular uma ação movida pela American Civil Liberties Union, em nome do pai Awlaki, que procurava forçar o governo a justificar ou revogar a sua sentença de morte. 

Nenhuma evidência foi mostrada que Awlaki, uma figura associada ao fundamentalismo islâmico, se envolveu em reais ações terroristas. O próprio jornal admite: “Se os Estados Unidos começarem a matar todos os radicais islâmicos que convocaram a jihad, não haverá fim para a violência."  Mas os editores estão, todavia, dispostos a colocar sua confiança cega na administração Obama, mesmo ao ponto de dar-lhe poderes de vida e morte sobre os cidadãos dos EUA e de outros países.

O editorial do Times cheira cinismo. Apresenta argumentos que não convencem a ninguém, na verdade, não se destinam a convencer, apenas tentam fornecer uma base racional para a política da barbárie imperialista. É mais uma demonstração de que, dentro da aristocracia financeira dos EUA, não há qualquer interesse na defesa dos direitos democráticos. 

Os reacionários abertos, como o Wall Street Journal e Fox News, mostram sua sede de sangue sem nenhum tipo de vergonha. Já os "liberais", como o NYT, preferem uma dose de hipocrisia moralista e tergiversações legalistas.  No entanto, as consequências para a humanidade são as mesmas.

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