Ex-alunos da UnB homenageiam estudantes desaparecidos no regime militar
![]() |
Foto Cedoc?UnB |
Ato
no dia 9 de novembro contará com depoimentos e exposição de fotos e
documentos de vários dos 58 estudantes listados em livro ainda inédito
sobre os alunos desaparecidos no campus
Por Débora Cronemberger - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Com o
objetivo de homenagear os alunos desaparecidos na Universidade de
Brasília durante o regime militar e repudiar a tortura, um grupo de
ex-alunos vai realizar o ato “Tortura não tem perdão”. A homenagem vai
acontecer no dia 9 de novembro, às 10h, no auditório Dois Candangos e
está sendo organizada com apoio da Comissão da Memória e Verdade Anísio
Teixeira e da Comissão UnB 50 anos.
Idealizado por
ex-estudantes da UnB durante o regime militar (veja aqui a página do
grupo no Facebook), o ato contará com depoimentos e exposição de fotos e
documentos. Serão convidados a participar do ato a Ordem dos Advogados
do Brasil, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o Comitê da
Verdade do Distrito Federal e ex-alunos da Universidade que vivenciaram e
foram punidos pela repressão militar.
O
ex-estudante da UnB Álvaro Lins começou a articular, junto com outro
ex-aluno, Aldir Nunes, o ato de homenagem aos três estudantes
desaparecidos durante o regime militar: Honestino Guimarães, Ieda Santos
Delgado e Paulo de Tarso Celestino. Paulo de Tarso e Ieda, que foram
estudantes do curso de Direito, desapareceram em 1971 e 1974,
respectivamente.
Reconhecido como liderança
estudantil, Álvaro, foi preso duas vezes entre 1968 – ano em que entrou
na Universidade para fazer o curso de Física – e 1969, quando foi
jubilado. “O Azevedo, reitor da época, forçou meu jubilamento. Eu estava
preso quando houve a prova de recuperação e o Azevedo não aceitou essa
justificativa para que eu fizesse a prova em outro momento”, conta.
Álvaro terminou por não concluir o curso de graduação. Atualmente
trabalha com marketing político.
EXPULSÃO –
Durante o regime militar, iniciado em 1964 e encerrado em 1985, foram
excluídos da UnB 58 estudantes, segundo dados que constam da obra, ainda
inédita, Paixão de Honestino, de Betty Almeida. “Houve duas grandes
levas de expulsão de estudantes na UnB. A primeira, por meio do decreto
447, ocorreu em 1969. A segunda, em 1976”, conta Betty, ex-estudante de
Química da UnB e integrante do Comitê da Verdade do DF. Ela entrou na
Universidade em 1967 e, depois de presenciar três invasões policiais na
UnB, pediu transferência para o Rio de Janeiro.
Segundo
Betty, o ex-reitor da UnB José Carlos de Almeida Azevedo foi
responsável pela exclusão de 56 do total de estudantes afastados.
Azevedo assumiu a função de vice-reitor da UnB em 1968. Em 1976, assumiu
o cargo de reitor, que exerceu até 1985.
A ideia da
homenagem aos alunos desaparecidos foi apresentada nesta terça-feira,
18 de setembro, ao reitor José Geraldo de Sousa Junior. Participaram da
reunião, além de Álvaro e Betty, outros ex-alunos da UnB durante o
período militar: Eustáquio José Ferreira Santos e o professor da
Faculdade de Comunicação Hélio Doyle, além do coordenador de relações
institucionais da Comissão Memória e Verdade da UnB, professor Cristiano
Paixão.
O grupo de ex-alunos da UnB que organiza a
homenagem adotou o nome "Da Oca ao Centro Olímpico" por uma motivação
histórica. "Oca era o nome do alojamento onde ficavam os estudantes
naquele período do regime militar, e o Centro Olímpico ficou marcado
pela intervenção policial de agosto de 1968", conta o arquiteto
Eustáquio Santos.
A ideia de homenagem aos
desaparecidos foi encampada pelo reitor José Geraldo. “Essa é uma boa
iniciativa, que ajuda a fortalecer a Comissão da UnB e integra a
programação de celebração dos 50 anos da Universidade”, afirmou o
reitor.
Comentários