Belo Monte é a forma de viabilizar definitivamente a mineração em terras indígenas
Por Telma Monteiro * | |
Pode-se começar essa história ainda no Estudo de Impacto
Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) de Belo Monte no
capítulo que fala dos direitos minerários na região da Volta Grande do
Xingu. Nele consta que há 18 empresas, entre elas a Companhia Vale do
Rio Doce (requerimento para mineração de ouro), com requerimento para
pesquisa, 7 empresas com autorização de pesquisa e uma empresa com
concessão de lavra (CVRD, concessão para extração de estanho) na região
onde estão construindo Belo Monte.
Eram, na época de realização dos estudos ambientais, 70 processos
incidentes sobre terras indígenas que têm 773.000 hectares delimitados,
dos quais 496.373 hectares são alvo de interesses para extração de
minério, representando 63% do território indígena. Empresas como a
Companhia Vale do Rio Doce, Samaúma Exportação e Importação Ltda., Joel
de Souza Pinto, Mineração Capoeirana, Mineração Guariba e Mineração
Nayara têm títulos minerários incidentes na Terra Indígena Apyterewa.
Ainda tem muito mais.
Independente das regras que norteiam o setor de mineração em vigor
ainda hoje no Brasil, o governo pretende autorizar a extração de
minérios — ouro e diamantes, principalmente — em terras indígenas (1).
Nos últimos anos houve uma seqüência de descobertas de jazidas de
bauxita, caulim, manganês, ouro, cassiterita, cobre, níquel, nióbio,
urânio, entre outros minerais mais nobres, em toda essa região do rio
Xingu. Fica nítido quando se olha para os mapas de direitos minerários
apresentados nos estudos dos projetos Belo Monte, Complexo Teles Pires e
Complexo Tapajós.
Estrategistas militares defendem há décadas o domínio do Brasil sobre
as jazidas e sua exploração para evitar que Terras Indígenas se tornem
territórios fechados e inacessíveis, o que impediria a exploração, a
exemplo do que acontece hoje com a Reserva Ianomami (2). Nas terras
indígenas da região do Xingu próximas aos canteiros de obras da UHE Belo
Monte estão concentrados pedidos de autorizações de pesquisa e lavra de
minerais nobres, como ouro, diamante, nióbio, cobre, fósforo, fosfato.
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A implantação do projeto da hidrelétrica Belo Monte é a forma de viabilizar definitivamente a mineração em terras indígenas (3)
e em áreas que as circundam, em particular na Volta Grande, trecho de
mais de 100 quilômetros que vai praticamente secar com o desvio das
águas do Xingu. E é justamente nas proximidades do barramento principal,
no sítio Pimental, que está sendo montado o maior projeto de exploração
de ouro do Brasil, que vai aproveitar o fato de que a Volta Grande
ficará seca por meses a fio com o desvio das águas do rio Xingu.
Há mais de dois meses está disponível na Internet o Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA) do projeto Volta Grande da empresa canadense
Belo Sun Mining Corp., de junho de 2012. O estudo defende as vantagens
de se fazer uma operação de lavra a céu aberto para beneficiamento de
minério de ouro com "tecnologia e equipamentos de ponta, similares a outros projetos no estado do Pará".
Algumas pérolas podem ser encontradas no RIMA do Projeto Volta Grande como: "os Planos de Desenvolvimento do Governo Federal e do Governo do Pará, para a região
do Projeto Volta Grande, apontam a necessidade de investimentos em
infraestrutura, educação básica, saúde e outros aspectos que permitam
melhorar os indicadores de desenvolvimento social e econômico da região,
e promover a melhoria da qualidade de vida de suas populações, de forma mais igualitária e sustentável".
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Incrível como, além das hidrelétricas, os projetos de mineração, na
visão do governo federal e do governo do Pará, também se tornaram a
panacéia para solucionar todos os problemas não resolvidos de
desenvolvimento social. Papel que seria obrigação do Estado, com o
dinheiro dos impostos pago pelos cidadãos de bem.
Ainda, segundo o estudo apresentado pela Belo Sun Mining Corp., o
investimento total no projeto de mineração de ouro da Volta Grande será
de US$ 1.076.724.000,00, que pretende, como "brinde", propiciar controle
e monitoramento ambiental e social e colaboração para a realização do
desenvolvimento social, econômico e ambiental daquela região. A vida
útil do projeto foi estimada em 12 anos de acordo com as pesquisas já
efetuadas.
Não é uma maravilha?
Mas no RIMA (a reportagem teve acesso ainda ao EIA) faltaram alguns
esclarecimentos: não há menção aos índígenas da região, nem ao fato de
que as obras de Belo Monte facilitarão o projeto Volta Grande e nem por
que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Pará está licenciando o
empreendimento, quando deveria ser o Ibama. São 106 processos de
licenciamento de mineração – ouro, bauxita, diamante, cassiterita,
manganês, ferro, cobre, areia, granito – no site do Ibama, dos quais 30
são no estado do Pará. Então, por que esse licenciamento escapou da
análise dos técnicos do Ibama?
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Os impactos ambientais do projeto da Belo Sun Mining sobre a
biodiversidade vão atingir principalmente a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas - assoreamento dos cursos d'água -, o que
acrescenta à região mais um agravante para aumentar o prejuízo das
comunidades indígenas da Volta Grande e do rio Bacajá, já às voltas com
impactos semelhantes decorrentes das obras de Belo Monte. Sem contar o
precedente que vai escancarar as portas para exploração de outras
jazidas. (Ver mapa abaixo)
Os índios isolados na área do projeto da Belo Sun Mining
A presença de indígenas em isolamento voluntário na região dos rios
Xingu e Bacajá está descrita desde a década de 1970 (4). Há estudos e
testemunhos que comprovam sua presença nas cabeceiras do Igarapé
Ipiaçava e de um grupo isolado (ou grupos isolados) na Terra Indígena
(TI) Koatinemo. Testemunhos colhidos em 2008 confirmaram a presença de
indígenas em isolamento voluntário. Os Asurini relataram seu encontro
com isolados, depois de uma expedição de caça na cabeceira do Igarapé
Ipiaçava.
O projeto Volta Grande da Belo Sun Mining Corp está em parte nas
áreas de perambulação desses grupos em isolamento voluntário. O Estudo
de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte, Componente Indígena,
reconheceu a presença de indígenas em isolamento voluntário na cabeceira
do córrego Igarapé Ipiaçava e na Terra Indígena Koatinemo dos Asurini
(5). Em Parecer Técnico, a Funai (6) fez referência aos impactos (7) que
poderiam afetar os indígenas em isolamento voluntário, observando que a
ação de grileiros e invasores vai ameaçar sua integridade física e
cultural.
O parecer da Funai ainda alerta para o fato de que o desvio das águas
e a redução da vazão do rio Xingu no trecho da Volta Grande pode gerar
efeitos em cadeia sobre a ictiofauna nas florestas marginais ou
inundáveis; o movimento migratório vai criar aumento populacional na
região e provocar pressão sobre os recursos naturais; essa pressão
levará às invasões das terras indígenas onde perambulam os grupos de
indígenas em isolamento voluntário (8).
A Funai também propôs que antes do leilão de compra de energia de
Belo Monte, ocorrido em 20 de abril de 2010, o poder público deveria
coordenar e articular ações para a proteção dos indígenas em isolamento
voluntário. Para isso era preciso publicar uma Portaria de Restrição (9)
de Uso entre as Terras Indígenas Trincheira Bacajá e Koatinemo.
Em 11 de janeiro de 2011, finalmente, a Funai conseguiu publicar a
Portaria de Restrição nº 38, que estabeleceu restrição ao direito de
ingresso, locomoção e permanência de pessoas estranhas aos quadros da
Funai na área descrita, pelo prazo de dois (02) anos a contar de sua
publicação. A área descrita na Portaria, Terra Indígena Ituna/ Itatá,
está localizada nos municípios de Altamira, Senador José Porfírio e Anapu, estado do Pará, tem superfície aproximada de 137.765 hectares (ha) e perímetro aproximado de 207,2 km. (Ver mapa)
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O projeto Volta Grande da Belo Sun Mining Corp. está sendo implantado no município de Senador José Porfírio,
na área da Portaria nº 38 da Funai, que visou proteger os grupos de
isolados. Em conversa sobre a Portaria, válida até dezembro de 2012, com
um funcionário da Funai que não quis ser identificado nesta matéria,
ele me disse que até o final do ano tem que escrever uma nova
justificativa para sua reedição e para isso precisam de mais informações
sobre o projeto Volta Grande e outros previstos na região. Ainda,
segundo ele, existem depoimentos mais recentes sobre a presença dos
índios isolados e a Funai está tratando a região da Portaria nº38 como
prioridade. A Funai tem tido muitas dificuldades, feito muitas
investidas na área e os estudos estão andando, com seis expedições
realizadas no último ano, concluiu.
A Audiência Pública para "apresentar" o projeto Volta Grande da Belo
Sun Mining Corp. para a sociedade está marcada para o próximo dia 13 de
setembro.
Belo Sun Mining Corp.
A empresa responsável, aqui no Brasil, pelo Projeto Volta Grande é a
Belo Sun Mineração Ltda., subsidiária brasileira da empresa canadense
Belo Sun Mining Corporation, que pertence ao grupo Forbes &
Manhattan Inc., um banco mercantil de capital privado voltado para
projetos de mineração em todo o mundo.
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A Belo Sun Mining Corp. foi lançada na Bolsa de Valores de Toronto,
em 30 de abril de 2012, em ritmo de festa e comemoração. No seu site
atualizadíssimo, a empresa não esconde suas pretensões de exploração
mineral na Amazônia e que tem um portfólio de propriedades no Brasil. O
foco principal da Belo Sun é explorar a mineração numa área que, afirma,
é 100% de sua propriedade e que tem ouro estimado em aproximadamente
2,85 milhões de onças.
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Quando se leem os diversos documentos dá para entender tanto
entusiasmo e como o projeto Volta Grande se tornou a menina dos olhos da
Belo Sun, pois controla os direitos de mineração e exploração de
130.541 hectares (1.305 km ²). Como isso foi possível ainda é preciso
investigar, pois durante algum tempo as equipes da companhia têm atuado
na Volta Grande do Xingu, sem disfarces, realizando perfurações e
tocando, na Secretaria Estadual de Meio Ambiente do estado do Pará, o
processo de licenciamento ambiental. O farto material fotográfico
disponibilizado no site dá uma desagradável sensação de que muito poder
está por trás desse bilionário negócio.
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Outro projeto, Patrocínio, na região do Tapajós, também da Belo Sun
Mining Corp., está sendo desenvolvido e merece um capítulo à parte.
Embora a empresa tenha informado nos estudos ambientais que se trata
de explorar uma jazida próxima à superfície, em condições geológicas
favoráveis, com extração a céu aberto, no site ela se refere à
existência de um potencial de alta qualidade em profundidades de pelo
menos 200 metros ou 300 metros abaixo da superfície. Parece que nada
está sendo descartado no projeto e que a construção da barragem
principal de Belo Monte, no sítio Pimental, para desviar o rio Xingu
justamente no trecho da Volta Grande, vai beneficar a extração do ouro
em grandes profundidades.
Outro detalhe que chamou a atenção sobre a Belo Sun Mining Corp. é
que, nos documentos disponibilizados agora neste mês (setembro), a
referência à companhia foi alterada e o símbolo, na estrutura do capital
da empresa, está representado como TSX: BSX. Em uma nota de 2011, o
Brasil Econômico conta sobre a Belo Sun e a extração de 4 milhões de
onças troy (barra de 31,1 gramas) em Altamira, no Pará, e dá o
empresário Eike Batista como potencial investidor devido à ligação dele
com o a região, onde explorou ouro entre 1980 e 1990.
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Começa a fazer sentido. Talvez Eike Batista seja o grande investidor
da Belo Sun Mining Ltda., subsidiária da Belo Sun Mining Corp.
A mineração no Brasil
Em maio de 2011, o governo divulgou o Plano Nacional de Mineração
(PNM) 2030, com um objetivo mal explicado de que o setor mineral
contribuiria com um Brasil sustentável. Palavras expressas na introdução
feita pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
A pretensão de apresentar uma visão de futuro calcada no
desenvolvimento do setor mineral brasileiro com objetivo estratégico de
sustentabilidade é, no mínimo, ofensiva. A justificativa que o PNM
utiliza para antecipar a ideia de que haverá maior pressão no uso e
ocupação do solo é que a demanda por bens minerais em países emergentes
deverá crescer nas próximas décadas.
As áreas chamadas de Restrição Legal, que são as unidades de
conservação, terras indígenas, as terras quilombolas, áreas destinadas à
reforma agrária, são consideradas uma espécie de entrave à expansão da
atividade mineral. Um exemplo que é citado no PMN, como um intróito para
conduzir o leitor a entender a necessidade de exploração de mineral em
terras de restrição legal, é o Plano de Manejo, considerado como um
verdadeiro obstáculo às práticas de "atividades econômicas".
As terras indígenas também são consideradas restritivas à atividade
mineral, pois impedem que mais de 25% da Amazônia Legal e 12% do
território nacional sejam exploradas. O artigo 231, § 3º, da
Constituição Federal de 1988 é entendido como passível de
regulamentação, pois prevê que a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas se dêem após aprovação do Congresso
Nacional, desde que as comunidades afetadas sejam ouvidas,
assegurando-lhes participação no resultado de lavra. Como a lei não foi
regulamentada, o PNM lhe atribui um quê de inconveniência para a
concretização dos planos de mineração ali contidos.
Regulamentar o Artigo 231 da Constituição Federal torna-se, então, no
PNM, um desafio para que no futuro se possa disciplinar a relação entre
a atividade minerária e as comunidades indígenas. A articulação
pressupõe uma melhoria no conhecimento geológico do Brasil para
facilitar a identificação de novas jazidas e, o que é pior, a maior
autonomia do Estado até para a oferta de insumos minerais para o setor
agropecuário. Sem nenhum resquício de pudor, o PNM expõe o objetivo
claro de obter, com a regulamentação, a permissão de "abertura de minas
em terras indígenas", que "também amplia o escopo de atuação do setor
(minerário) na região Norte".
Não é de se surpreender que até um papel estratégico para a
conservação das florestas foi atribuído ao setor mineral, sem sequer um
esclarecimento de como isso se daria em plena Amazônia. À exploração de
urânio também é concedida uma colocação de arrepiar, considerada como
uso preferencial de produção de energia que reduz os gases de efeito
estufa. Exploração essa na Amazônia, subentende-se, e em terras
indígenas e unidades de conservação!
A mineração na Amazônia passa a ser destacada como a atual fronteira
da expansão mineral, encarada com verdadeiro otimismo no texto, dado o
florescimento dos grandes empreendimentos já em curso desde o século XX.
São citados todos os projetos cujos impactos se conhecem largamente,
como a lavra de bauxita de Juruti, no Pará; a lavra de manganês da Serra
do Navio (AP); de bauxita do rio Trombetas, Paragominas; de estanho de
Pitinga (AM) e de Rondônia; de ferro, manganês, cobre e níquel de
Carajás (PA); de caulim do Jari (AP) e da bacia do rio Capim (PA); de
alumina e alumínio de Barcarena (PA); de escoamento de ferro-gusa pela
ferrovia de Carajás.
Todo o plano nos leva a antever um grande e único processo de
exploração mineral na Amazônia, já precedidos da destruição imposta
pelos projetos hidrelétricos e hidrovias. A exploração do grande
potencial mineral identificado na Amazônia, especialmente em terras
indígenas, está, pelo menos no papel e no Congresso Nacional, em curso,
bem pontuada nos planos do governo federal com projetos significativos
para facilitar o conhecimento geológico do Brasil.
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Na região amazônica, 5% da área que deverá ser estudada para aumentar
o conhecimento geológico correspondem a terras indígenas e o documento
estabeleceu diretrizes para mineração em áreas com restrições legais.
Entre elas, o conhecimento do subsolo para tomada de decisão que se
adeque aos "interessese nacionais, regionais ou locais." O que isso quer
dizer, na prática, é que, apesar de a definição de acesso e uso das
terras indígenas estar bem clara na Constituição de 1988, uma agenda de
entendimentos vai propiciar a regulamentação em tramitação no Congresso
e, assim, viabilizar a mineração em terras indígenas e quilombolas. Tudo
em nome do interesse nacional.
O PNM propõe duas ações com relação às áreas com restrições legais,
para aparar as arestas que travam o desenvolvimento da atividade
minerária: uma é articular com órgãos de usos e ocupações do solo
restritivos à atividade mineral, que seriam o meio ambiente, terras
indígenas e de quilombolas, áreas para reforma agrária, sítios
arqueológicos e fossilíferos, entre outros; e a outra é apoiar a aprovação
de lei que regulamente o aproveitamento dos bens minerais nas terras
indígenas, segundo dispõe o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988.
O Projeto de Lei da mineração
É da competência exclusiva do Congresso Nacional "autorizar, em
terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e
a pesquisa e lavra de riquezas minerais", Art. 49, inciso XVI, da
Constituição Federal (CF). As riquezas minerais são sempre de interesse
nacional e econômico, mas, no que diz respeito à preservação dos
interesses das populações indígenas, há uma grande distância.
Está tramitando no Congresso Nacional um Projeto de Lei (PL) 1610/96
que pretende regulamentar a exploração de recursos minerais em terras
indígenas e que sofre uma grande pressão para que seja aprovado ainda
este ano. Uma comitiva de deputados da Comissão Especial de Mineração em
Terras Indígenas foi à Austrália para ver como é que fazem por lá, para
que os indígenas aceitem a mineração em suas terras. Foram estudar a
legislação, contratos, royalties e a regulação do sistema de exploração
mineral em áreas indígenas, além-mar, para elaborar um parecer ao PL
1610.
O marco regulatório e o novo código da mineração
Em 2011, o Ministério de Minas e Energia resolveu lançar a discussão
do novo Marco Legal da mineração brasileira, fez um diagnóstico onde
apontou burocracia e uma certa "fraqueza" do poder concedente como as
principais dificuldades que atingem o setor. Entre os objetivos
propostos para o novo Marco Legal estão o fortalecimento do Estado para
ter soberania sobre os recursos minerais, propiciar o maior
aproveitamento das jazidas e atrair investimentos para o setor mineral.
Tudo indica que os investidores já estão a postos.
Lógico que, no pacote do novo Marco Legal da mineração brasileira, o
MME aproveitou para criar o Conselho Nacional de Política Mineral e a
Agência Nacional de Mineração (ANM), que, provavelmente, serão
preenchidos com a nomeação de pessoas em cargos de confiança. Isso já
acontece, por exemplo, com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
ligada à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), subordinada
diretamente ao MME.
As propostas do governo Dilma Rousseff, para alterar o Código de
Mineração, que é de 1967, e criar a Agência Nacional de Mineração, serão
examinadas pelo Congresso Nacional a partir deste mês de setembro. A
principal mudança no Código de Mineração será que o governo passará a
leiloar o direito de exploração que, atualmente, é conferido por ordem
de chegada.
Todas essas alterações previstas no setor mineral no Brasil, no
entanto, não vão alterar em nada as licenças para pesquisa e exploração
de novas jazidas já concedidas pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM). Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, recentemente
anunciou que as autorizações novas estariam suspensas até que o novo
Codigo de Mineração seja aprovado pelo Congresso. Qualquer processo em
tramitação e não concluído no DNPM, portanto, ainda segundo o ministro,
perderiam a validade e as jazidas seriam futuramente leiloadas de acordo
com as novas normas.
Para se ter uma ideia do tamanho do filão minerário no Brasil
localizado principalmente na Amazônia, são mais de 5 mil alvarás de
pesquisa e 55 portarias de lavra que estão em processo de aprovação no
DNPM. Lógico que a gritaria é grande por parte das mineradoras que estão
na fila de espera, especialmente quando elas levam em conta que a
Compensação Financeira pela Exporação de Recursos Minerais (CFEM) vai
passar de 0,2% para até 6%. Mas, para o Ministério de Minas e Energia,
tocado por Edison Lobão, sob a chefia de José Sarney, a aprovação do
Código da Mineração aumenta ainda mais o seu poder, passando a ser so
controlador direto dos leilões de concessões, como o da energia.
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Essa é uma herança do governo Lula desde 2010 que Dilma Rousseff agora está tocando com celeridade.
Esse resumo sobre as tramitações que envolvem as alterações no setor
de mineração serve para esclarecer o porquê de grandes empresas
internacionais estarem ao mesmo tempo "atacando" as principais regiões
onde estão as maiores riquezas minerais no Brasil. Uma delas é onde está
sendo construída a hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Xingu;
uma outra é na Província Mineral do Tapajós, justamente onde o governo
planeja a construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós. Coincidência
ou não, as empresas são canadenses e têm vários projetos para exploração
de ouro nessas áreas.
Notas:
1) Governo quer mineração em áreas indígenas da Amazônia; disponível em http://www.amazonianet.org.br/index.php?system=news&news_id=652&action=read.
2) Idem acima.
3) Exploração de minérios em terras indígenas é tema polêmico , 26/09/10, disponível em: http://www.observatorioeco.com.br/index.php/exploracao-de-minerios-em-terras-indigenas-e-tema-polemico/
4) AHE Belo Monte Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA), páginas 103/111/113. Componente Indígena PROCESSO IBAMA n° 02001.001848/2006-75, abril de 2009.
5) Idem, p. 103
6) UHE Belo Monte – Componente Indígena Parecer técnico nº 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI.
7) Parte 4 – Avaliação Geral dos Impactos Socioambientais nas Populações Indígenas, p. 87.
8) “A continuidade e possível intensificação dessa ocupação por
não-índios colocará em risco a integridade física dos grupos isolados,
sendo necessária a interdição da área e as devidas ações de
fiscalização. Em setembro de 2009 a Funai enviou outra expedição para a
região com o mesmo objetivo de identificar a presença dos isolados, mas
ainda não obtivemos as informações com os resultados dessa nova
tentativa.” p. 86, UHE Belo Monte – Componente Indígena Parecer Técnico
nº 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI.
9) “1) Medidas ligadas ao Poder Público, a serem implementadas em
diferentes etapas: a) Ações até o leilão: 3. Publicação de portaria para
restrição de uso entre as Terras Indígenas Trincheira Bacajá e
Koatinemo, para proteção de índios isolados”; UHE Belo Monte –
Componente Indígena Parecer técnico nº 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI, ps. 95/96.
* Telma Monteiro é ativista sócio-ambiental, pesquisadora, editora do blog http://www.telmadmonteiro.blogspot.com.br,
especializado em projetos infraestruturais na Amazônia. É também
pedagoga e publica há anos artigos críticos ao modelo de desenvolvimento
adotado pelo Brasil.
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