Clara Zetkin, lutadora pela libertação da mulher trabalhabora


 

No aniversário dos 75 anos, Clara Zetkin recebeu um presente singular. Uma saudação do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que se dirigia “à intrépida porta-voz da revolução proletária, à amiga e companheira das massas trabalhadoras da URSS e lutadora pela libertação da mulher trabalhadora”, dizendo: “Companheira de armas de Engels, lutastes incansavelmente contra o oportunismo na Segunda Internacional e com toda a força da vossa grande inteligência e de vossa paixão revolucionária vós vos erguestes contra as opiniões de Bernstein, contra o revisionismo. Nos dias em que deflagrou a guerra mundial, quando os chefes da Segunda Internacional se deixaram vergonhosamente atrelar ao carro do imperialismo, vós, na companhia de Lênin, na companhia de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, levantastes bem alto a bandeira do internacionalismo proletário. Estivestes conosco também nos dias de Outubro e nos dias da guerra civil quando a contrarrevolução mundial tentava sufocar o primeiro Estado Proletário do Mundo. Abnegada amiga da URSS, encontrai-vos sempre no posto de combate quando o inimigo ameaça o país dos Sovietes. O Comitê Central do Partido Comunista (b) da URSS manifesta os seus votos de felicidade e a firme certeza de que lutareis ainda por muitos anos, nas primeiras fileiras da Internacional Comunista”. 

Mestra da Revolução Proletária

A grande revolucionaria se emociona ao receber tamanha homenagem. Sua vida se desenrola como um filme na tela das lembranças. Ela nascera Clara Eissner no dia 5 de julho de 1857, num período de efervescência, na Alemanha. Apenas nove anos haviam se passado das jornadas de 1848.

Aderiu ao marxismo ao terminar o Magistério, quando se integrou a um círculo de estudos organizado por revolucionários russos. Ela se casou com um dos membros desse grupo, Ossip Zetkin, de quem herdou o sobrenome.

Priorizou, no movimento socialista, a organização do Movimento Feminino Internacional. Defendia a igualdade de direitos, mas se diferenciava do feminismo burguês, pois ligava a luta das mulheres com o combate do proletariado ao sistema capitalista.

Na década de 80, para escapar à repressão contra os socialistas, viveu 10 anos no exílio, sendo acolhida na Suiça e na França. Participou ativamente do Congresso da Segunda Internacional, em Paris, no ano de 1889, ocasião em que conheceu Engels (Leia A Verdade, nº). Voltando para a Alemanha após o Congresso, encontra o Partido Socialdemocrata (SPD) em crise, com a formação de três tendências: uma à direita, liderada por dirigentes como Eduardo Bernstein, George Vollmar e Eduardo Davi; uma, ao centro, com August Bebel e Karl Kaustki e a terceira, à esquerda, que tinha à frente Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet e Franz Mehring, aos quais se junta Clara.

Inspiradora do Dia Internacional da Mulher  

Foi Clara Zetkin que propôs a celebração do Dia Internacional da Mulher, no 8 de março, aprovada no II Congresso das Mulheres Socialistas em 1910. No ano seguinte, um milhão de mulheres foram às ruas no seu Dia, na Europa e nos Estados Unidos.

Em 1915, já deflagrada a Primeira Guerra Mundial, organizou em Berna (Suíça), um congresso internacional de mulheres contra a guerra, contrariando o seu próprio partido, que traíra o Movimento Proletário Internacional, aprovando os créditos de guerra no Parlamento. No Congresso, Clara proclamou que “Não se concebe um Movimento de Massas pela Paz sem a participação das mulheres proletárias; a paz só estará assegurada quando uma esmagadora maioria das mulheres trabalhadoras de todo o mundo aderirem à luta pela causa da paz, pela causa da liberdade e da felicidade da Humanidade, sob a palavra de ordem de “Guerra à Guerra”.

Por sua combatividade em favor da paz, Clara foi presa até o término da guerra. Junto com Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet, Franz Mehring e demais companheiros da Esquerda, rompeu com o SPD e fundou a Liga Espartaquista, que depois se tornaria o Partido Comunista Alemão.

Foi eleita para o Parlamento Alemão (Reichstag), pelo PCA, e sua atuação parlamentar foi sempre vibrante, de denúncias da opressão, de apoio ao movimento comunista internacional. Em 1932, fez o discurso de abertura da sessão parlamentar e um veemente pronunciamento contra o nazismo em ascensão. Com a vitória de Hitler, em 1933, mudou-se para a Rússia, onde morreu pouco tempo depois.

Construindo e disseminando o Socialismo

Apoiava incondicionalmente a Revolução Bolchevique de 1917, destacando que “O exemplo da Grande Revolução Socialista de Outubro, a vitória sobre a intervenção estrangeira nos anos da guerra civil e a construção socialista que se desenvolve vitoriosamente, testemunham o fato de que o proletariado já se acha maduro para construir uma sociedade nova, socialista, livre da exploração do homem pelo homem”.

Clara esteve várias vezes e por longos períodos na União Soviética, onde participava de inúmeras atividades, colaborando com a construção do Estado Soviético, e pesquisava as mudanças no comportamento das mulheres após a Revolução, especialmente no interior, nas áreas de influência muçulmana, festejando a retirada dos véus, testemunhando a alegria das mulheres ao praticarem este ato simbólico de sua libertação.
Amiga de Lênin, tinha com ele longas e frutíferas conversas, que registrou na obra Recordações de Lênin.Nadjeda Krupskaia, militante bolchevique e esposa do líder maior do povo soviético, assim se referiu a Clara: “Uma revolucionária marxista convicta, ativa e inflamada que dedicou toda a sua vida à luta pela causa da classe operária, à luta pela vitória do socialismo em todo o mundo”.

Clara Zetkin faleceu em Moscou, no dia 20 de junho de 1933, perto de completar 76 anos de idade. Foi levada para o túmulo pelos dirigentes soviéticos Stalin, Molotov, Voroshilov e Ordjonikdzik, o que demonstra a importância do seu apoio à consolidação do socialismo na URSS e à sua disseminação por todo o planeta.

A urna com as cinzas desse exemplo de mulher e revolucionária foi colocada no mausoléu de Lênin, no Kremlin, honraria merecida e feita somente a dois estrangeiros: Clara Zetkin e John Reed, o jornalista estadunidense comunista, que fez a cobertura da Revolução Bolchevique para a imprensa ocidental e escreveu a famosa obra “Dez Dias que Abalaram o Mundo”.

José Levino é historiador

FONTE: Jornal A Verdade 

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