O FRACASSO DO PLANO COLÕMBIA
Texto de Walter Fanganiello Maierovitch, ex-Secretário Nacional Antidrogas
O Plano Colômbia completou três anos no mês de julho último, e nessa sua primeira fase foram despendidos mais de US$ 2 bilhões. Pelos dados levantados, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) continuaram a arrecadar US$ 500 milhões por ano. Isso mediante a cobrança da chamada “taxa-revolucionária”, gerada sobre a extração da folha de coca e as exportações da pasta-básica e do cloridrato de cocaína. Vultosas somas arrecadaram, também, os paramilitares das Autodefesas da Colômbia (AUC) e o Exército de Libertação da Colômbia (ELN). O fracasso do Plano Colômbia foi avaliado pela Anistia Internacional, em recente seminário realizado pelo Congresso dos EUA. O representante da Anistia, Eric Olson, ressaltou que nos últimos três anos, e por força do conflito armado, milhões de colombianos fugiram do país.Seguramente, referiu-se aos 412 mil refugiados, conforme dado oficial. A esse total acrescentam-se cerca de 20 pessoas que diariamente são assassinadas.
Ainda sobre a falência do Plano Colômbia, foram registradas manifestações dos congressistas democratas americanos. Um deles, James McGovern, frisou ser o plano “cada vez menos uma conquista para os colombianos e cada vez mais uma marca da estratégia militar do governo dos EUA”.
Nos três anos do Plano Colômbia, uma nova pesquisa encomendada pelos EUA estimou em 30% o lucro líquido obtido com a venda de cocaína realizada pelos “cartelitos” colombianos. Apesar do percentual baixo (30%), o lucro é significativo em razão do movimento planetário da cocaína. Os 70% restantes cobrem gastos e despesas: corrupção de autoridades (20%), transporte, matéria-prima e insumos químicos (12%), advogados e comissões de corretores incumbidos da lavagem do dinheiro sujo (11%), perdas por motivos fortuitos ou apreensões policiais (25%) etc.
Vale lembrar que mais de 80% da cocaína disponível no mercado internacional são de procedência colombiana, saída dos laboratórios operados pelo sistema de cartéis pequenos e interligados. Esse novo sistema substituiu a forma organizacional idealizada por Pablo Escobar, responsável pela introdução do plantio da coca na Colômbia, e que se gabava de ter aberto 3 milhões de postos de trabalhos para os colombianos.
A propósito, os americanos imaginaram que o problema da oferta da cocaína estivesse solucionado quando promoveram e apoiaram as ações que resultaram na morte de Escobar (1993), nas prisões dos irmãos Orejuela (1995), do general-ditador panamenho Manuel Noriega (1992) e dos diversos traficantes mexicanos de ponta, como João Garcia Abrego e o general Gutierrez Rebolo, este com parte da história de sua vida corrupta contada no filme “Traffic”.
Os americanos e colombianos implantaram o Plano Colômbia em 11 de julho de 2000. Para avaliar os resultados dos primeiros três anos do plano, o czar antidrogas americano John Walthers realizou recentes visitas aos centros sul-americanos de cultivo e produção de cocaína e heroína. In loco, portanto, ele pôde constatar o fracasso do Plano Colômbia.
Os fracassos derivam do fato de o plano não ter conseguido enfrentar problemas fundamentais, agravados pelo fenômeno das drogas. Esses problemas dizem respeito ao desemprego, à injustiça social, à concentração de renda e à corrupção das autoridades. Dos 43 milhões de habitantes da Colômbia, mais da metade vive com menos de US$ 2 por dia. Os conflitos e a violência afetam 25% do PIB, e os paramilitares são empregados para abafar os protestos sociais, especialmente em localidades onde o Estado nunca está presente.
A principal estratégia americana contida no Plano Colômbia centrou-se na erradicação das áreas de cultivo de coca, mediante o despejo aéreo de herbicidas, do tipo glifosato e fabricados pela multinacional Monsanto, com o nome comercial Round Up. Com isso, os homens de Bush esperavam aniquilar economicamente os insurgentes das Farc. E para continuar a segunda fase do militarizado Plano Colômbia, que esconde os seus interesses hegemônicos e econômicos, propalam ter conseguido reduzir em 37% as áreas de cultivo.
A dupla Bush-Walthers, no entanto, continua a silenciar a respeito da causa da migração dos plantios de coca para o Peru e a Bolívia. Na verdade, enquanto herbicidas eram jogados pelos aviões da empresa de segurança Dyn-Corp, contratada pelo governo americano por cinco anos ao preço de US$ 170 milhões, a criminalidade organizada triplicou o cultivo no Peru e na Bolívia, ou seja, manteve-se a oferta. Pior ainda, o herbicida despejado vem provocando danos ecológicos irreversíveis. Para fugir das fumigações, os “cartelitos” provocam desflorestamentos. Ou seja, abrem clareiras na selva amazônica colombiana, realizando plantios em terrenos de até 3 hectares. A segunda fase do Plano Colômbia será exposta pelo presidente Álvaro Uribe, em outubro, à União Européia. Na ocasião, Uribe vai postular ajuda financeira para combater o terrorismo e reduzir os seqüestros de pessoas em seu país. As fumigações, no entanto, continuarão por conta da Dyn-Corp.
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