MST: clima ainda tenso na Fazenda Cambará
Um grupo de 148 famílias vinculadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) voltou a ocupar, na manhã de quarta-feira, agora pela quarta vez, a Fazenda Cambará, localizada no município de Santa Luzia do Pará e pertencente ao ex-deputado Josué Bengtson. Ao confirmar ontem a ocupação, o coordenador estadual do MST, Ulisses Manaças, acentuou que a disposição dos sem-terra é permanecer na área até que ela seja loteada pelo Incra para a reforma agrária.
Ulisses Manaças disse que a Fazenda Cambará foi invadida pela primeira vez há cerca de dois anos. Nas três ocupações anteriores os militantes do MST tiveram que deixar a propriedade. Nas duas primeiras, por interferência de tropas da Polícia Militar. A última desocupação, ocorrida no ano passado, resultou de decisão proferida pelo Juizado Agrário da 1ª Região, com sede em Castanhal.
A área pretendida pelos sem-terra mede cerca de quatro mil hectares e pertence ao patrimônio fundiário da União, segundo o líder do MST. O proprietário da Fazenda Cambará tem direito assegurado sobre uma área de 1.800 hectares, cujo título foi expedido em 1961 pelo Instituto de Terras do Pará. “O Iterpa já avisou que esse título não poderá ser cassado”, admitiu Manaças.
Manaças informou que é de calmaria a situação na fazenda, mesmo tendo ocorrido lá, há poucos dias, o assassinato de um dos líderes do movimento. Ulisses confirmou que assim que os sem-terra, que até então estavam acampados numa área próxima, retornaram à propriedade, houve contato direto com o pessoal de uma empresa que presta serviços de segurança patrimonial a Josué Bengtson. “Mas não houve ameaças nem hostilidades. Eles (seguranças) disseram que não estavam ali para criar problemas”, relatou Manaças, reiterando não ter havido qualquer tentativa de intimidação. “Nós deixamos claro também que não pretendemos criar problemas, não queremos violência”, acrescentou.
Ele disse ainda que o MST já pediu à Superintendência do Incra a arrecadação da área para destinação à reforma agrária. A promotora de Justiça Ana Maria Magalhães de Carvalho, da Vara Agrária de Castanhal, confirmou a informação. Ela revelou que a Procuradoria do Incra entrou com intervenção de terceiros, provando que a Fazenda Cambará, em sua maior parte, está localizada numa gleba pública federal, já devidamente arrecadada. “Por conta dessa liminar, o processo já foi deslocado para a Justiça Federal, ficando definitivamente afastada a possibilidade da concessão de nova proteção possessória”, finalizou.
INQUÉRITO
A Polícia Civil concluiu ontem o inquérito policial sobre o assassinato de José Valmeristo Soares, o “Caribé”, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em Santa Luzia do Pará, nordeste do Estado. Ele foi morto a tiros, no último dia 3, em uma fazenda situada na zona rural do município. Quatro pessoas foram presas, por determinação da Justiça, acusadas de envolvimento no homicídio. Marcos Weslley Maestri Bengtson é apontado como mandante do crime. Os demais presos são Ademir Oliveira do Nascimento, o “Rato”, Pedro Jackson da Costa, o “Pedro Jack”, e Orlando Nonato Brandão Sampaio Júnior, o “Maranhão”, acusados de matar “Caribé” e também de tentar matar João Batista Galdino, que o acompanhava. Eles foram indiciados por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Todos permanecem presos com mandados de prisão preventiva decretados pelo juiz André Luiz Filo-Creão da Fonseca, da Comarca de Santa Luzia do Pará.
O relatório conclusivo do inquérito foi entregue na Comarca Judiciária na tarde de ontem, pelo delegado José Humberto Melo Júnior, da Delegacia de Santa Luzia do Pará. As investigações correm em segredo de Justiça.
Fonte: Diário do Pará
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