Ambientalistas do RJ contam com apoio de capixabas contra Aracruz

Ambientalistas do RJ contam com apoio de capixabas contra Aracruz

A Aracruz Celulose quer implatar um pólo de celulose no Rio de Janeiro. Rejeitada pela sociedade civil organizada do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a Aracruz Celulose tenta agora se infiltrar no Estado do Rio, onde existe a menor proporção de mata atlântica preservada do País. A pretensão da transnacional foi debatida em audiência pública, na última quarta-feira (16), com apoio de técnicos capixabas.
A audiência, na Assembléia Legislativa fluminense, debateu uma das principais manobras para a aprovação do pol - um Projeto de Lei proposto pelo governo Sérgio Cabral (PMDB) prevendo mudança na lei 4063/2003, que obriga empreendimentos de monoculturas a plantar o equivalente a 30% da área cultivada com mata nativa. Com a mudança, que prevê um zoneamento regional, a contrapartida seria reduzida para até 15%, prejudicando o meio ambiente.
Se aprovado o projeto em favor da Aracruz Celulose, as regiões norte, noroeste e sul fluminense, incluindo a área às margens do rio Paraíba do Sul, terão 25 dos seus 92 municípios cobertos por eucalipto. O governo do Estado do Rio de Janeiro é um fervoroso defensor do projeto da transnacional. Esta defesa vem sendo classificada por ambientalistas como um "acerto de contas".
Aracruz Celulose estaria usando a mesma tática adotada no Espírito Santo. No Rio de Janeiro, contaram com apoio financeiro da transnacional em suas campanhas eleitorais o próprio governador no Estado e o secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc, segundo as informações da Rede Alerta Contra o Deserto Verde - Fluminense.
A mobilização pró e contra o projeto vem agitando o ambiente político da região. Contra o governo estão inúmeras entidades da sociedade civil organizada, como Rede Alerta Contra o Deserto Verde, Federação Estadual dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag), Associação dos Geógrafos do Brasil (AGB), Instituto de Cultura Ambiental (ICA) e Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras.
Do Espírito Santo, estão fechados apoios da Rede Alerta Contra o Deserto Verde - ES, Movimento dos Sem Terra (MST), do movimento de luta dos Tupinikim e Guarani e dos quilombolas, entre outros. Como argumento contra o pólo serão citados exemplos de destruição ambiental no Espírito Santo, como a ocupação de solo tradicional indígena e quilombola, a destruição e contaminação de rios, o êxodo rural, o incentivo ao preconceito e à violência contra as comuniades tradicionais do Estado, entre outros problemas ambientais e sociais gerados pela ocupação desordenada do solo capixaba.
A Rede Alerta Contra o Deserto Verde - Fluminense afirma que a implantação de um pólo de celulose no Estado do Rio não é apenas uma questão ecológica, mas também uma questão de segurança alimentar, porque as áreas reservadas para o pólo são tradicionalmente de produção alimentar. Também se trata de uma questão de reforma agrária, já que é nesta região que se encontram 80% das terras disponíveis e que aguardam decisão judicial para serem destinadas à reforma agrária.
Atualmente, 30% das terras do Rio de Janeiro são da Aracruz Celulose, compradas na mesma época (2002) em que se discutia a atual lei. Segundo a Rede Alerta Contra o Deserto Verde - Fluminense, o próprio zoneamento estadual foi aprovado com vários pontos que beneficiavam a Aracruz Celulose. Já naquela época, a empresa especulava sobre as terras fluminenses.
A intenção do governo fluminense, com o pólo de celulose, é iniciar na região o 3° ciclo de monocultura, depois do café e da cana-de-açucar, que destruiu boa parte da mata atlântica do Rio de Janeiro. Já os ambientalistas pretendem de uma vez por todos enterrar a intenção da Aracruz Celulose de se infiltrar no Rio de Janeiro, na audiência que realizada na quarta-feira (16). Segundo eles, já há na região fluminense especulação e compras de terras feitas pela Aracruz Celulose.
"Macaé, no norte fluminense, é considerada a cidade mais violenta do interior do Rio de Janeiro e em contrapartida produz 80% do petróleo produzido pelo Brasil. O que causou isso foi o êxodo rural, e não será diferente com a implantação do pólo", alertou um dos integrantes da Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
Segundo as entidades organizadas "a proposta do governo abre mão da recuperação das terras no norte e noroeste do Estado, propondo recuperar com um terceiro ciclo de monocultura terras degradadas por monoculturas. Seria como se um médico, para curar um doente, resolvesse adoecê-lo mais".
Eles lembram que, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as regiões norte, noroeste e sul fluminense têm o solo apropriado para a fruticultura, policultura, seringueiras, entre outras espécies, que aumentam a renda do campo e são um contraponto natural contra a monocultura do eucalipto.
A proposta para mudança de lei, e consequentemente para a implantação do pólo de celulose, apresentada há uma semana, está em tramitação na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro com pedido de votação em regime de urgência.
Além das entidades já citadas, lutam contra a sua aprovação o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Zona Oeste e da Baía de Sepetiba, Verdejar - Proteção Ambiental e Humanismo, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Bancários, Fundação para Conservação da Natureza (FCN) e Instituto de Cultura Ambiental (ICA), Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) e Fórum Estadual de Reforma Agrária do Rio de Janeiro.

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