LIBERDADE PARA OS PRESOS POLÍTICOS NO BRASIL


















RUSSO

Belo Horizonte, 28 de Fevereiro de 2007




Ao Cebraspo
À todos que subscreveram a Carta Aberta “Contra a criminalização e perseguição ao Movimento Camponês de Rondônia – Liberdade para Ruço!”



Permanece a incerteza quanto a data do julgamento dos companheiros Ruço, Caco e Joel.

A informação do cartório de Jaru até o dia 27 de fevereiro indicava os próximos dias 03 e 04 de abril, mas nossos advogados não haviam sido ainda intimados. Nesta manhã (28/02/07), ativistas do Núcleo dos Advogados do Povo – NAP de Rondônia, nos informaram que no cartório constava alteração desta data. Não nos foi possível confirmar.

O que na nossa opinião fica inconteste, é que a protelação tem sido o instrumento da pública, notória e já sobejamente desmoralizada mafiosa classe dominante de Rondônia, que maneja executivo, legislativo e judiciário em defesa de seus interesses, no sentido de ganhar tempo para se recuperar do impacto causado pela divulgação da “Carta Aberta” e a verdadeira comoção que gerou na população local. O processo farsa contra Ruço, Caco e Joel, instrumento de repressão e coerção contra o movimento camponês de Rondônia, não pôde seguir então como pretendiam o latifúndio e a grande burguesia local.

A publicidade em torno do caso e suas aberrações, bem como a pressão de intelectuais, progressistas e verdadeiros democratas, logrou garantir a vida de Ruço, seriamente ameaçada na Penitenciaria Urso Branco até o final de dezembro, quando o companheiro foi transferido para Ariquemes, bem como impediu que a manobra do desaforamento (transferência do Júri de Ruço de Jaru para Porto Velho) fosse consumada.

Nesses últimos cinco meses (setembro de 2006 a fevereiro de 2007), a Juíza que assumira politicamente as posições do latifúndio, punindo Ruço a cada manifestação do movimento camponês, solicitou sua transferência de Jaru (se afastando do processo), e a acusação “ganhou” a assistência direta do latifúndio, através da indicação de um advogado que representa o que há de mais podre na nossa sociedade.

Cumpre urgentemente redobrarmos nossos esforços. A situação é grave. Os fatos recentes indicam uma contra-ofensiva da reação. E em que pese aparentemente se manifestarem sob outra contenda, na realidade se inserem no contexto de condenar Ruço, Caco, Joel, o movimento camponês, e os próprios tênues “direitos democráticos” de toda a gente de Rondônia.




Como denunciamos em recente nota assinada em conjunto com a Liga Operária, “Mais uma vez o Jornal Folha de Rondônia estampou como principal manchete de capa na sua edição de domingo, 18/02/07, “LCP aterroriza em Jacinópolis”. É importante destacar que o Jornal Folha de Rondônia tem notórias ligações com o latifundiário e presidente da APRO, Sebastião Conti Neto, ( antiga UDR de Rondônia) , que é um dos seus principais anunciantes. As acusações contra os camponeses são as mesmas e velhas de sempre, crime ambiental, treinamento de guerrilha, armas e munições, etc., etc., etc. As intenções de criminalizar a luta camponesa, custe o que custar, sem nenhum escrúpulo ou compromisso com a verdade, são baseadas em futuras reportagens que comprovariam suposto treinamento de guerrilha. E ficam evidentes quando, na página eletrônica do mesmo jornal, em 22/02/07, matéria sobre um assassinato de um fazendeiro em Porto Velho aparece com a mesma manchete, “LCP aterroriza em Jacinópolis”, e quem clicar na seta que aparece ao fim da chamada, encontrará a matéria atacando os camponeses ...”.




Contundentes também são as denúncias da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia:




“... quando os latifundiários Carlos Shumann, o dono da madeireira Roima e outros controlavam a região de Jacinópolis, derrubavam 1.000 alqueires de uma só vez e o Ibama nun se incomodou. A SEDAM (Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental) tem um posto dentro do latifúndio CONDOR ...”

“... O jornal acusa a LCP de ter armas e munições fartas... todo mundo sabe em Rondônia que quem tem grupos de pistoleiros fortemente armados são o Catâneo, Condor, Amorim e outros latifundiários. Todas as suas terras eles conseguiram às custas do assassinato de dezenas de camponeses, da tortura com requintes de crueldade. Até hoje nenhum deles foi punido.”

Como estamos nos dirigindo aos democratas, tomamos a liberdade de reproduzir parte de um relatório de um apoiador na área jurídica:




“ encapuzados atacam de madrugada pessoas que trafegam no trajeto Buritis/Jacinópolis, em Rondônia, nos municípios de Campo Novo de Rondônia, Vila Nova Mamoré e Buritis. Uns com uniforme da PM sem capuz e outros encapuzados que são policiais civis e até militares conhecidos da população da cidade de Buritis. Estão parando as pessoas e da maneira como agem demonstram que estão interessados mesmo é em eliminar cidadãos, pois com armas de grosso calibre ... deitam as pessoas no chão, humilham e atacam sempre quando as pessoas estão sozinhas e não mais do que duas ou três. Um comerciante que estava com a moto sem documentos conseguiu escapar do cerco entrando por uma picada ... ficou escondido lá ... por sorte não foi atingido pelas várias rajadas de tiros que deram os encapuzados ...

“ ... no fórum de Buritis as ações possessórias estão paradas ... o responsável da justiça local parece que só espera a ação policial e não quer dar mais andamento conforme os pedidos dos camponeses ...”




É importante também ressaltar as declarações de uma professora da Unir que esteve na região, coletou dados, entrevistou camponeses e desta pesquisa resultou dissertação em tese de mestrado, conforme divulga site da internet de Rondônia, talvez um dos únicos espaços da mídia não corrompidos na região:




“ ... o que há em Jacinópolis são camponeses pobres, expulsos de outras regiões do país, que querem produzir seu sustento e encontram uma barreira que os quer expulsar: o latifúndio, o tráfico de drogas, exploração ilegal de madeira e recursos minerais e os camponeses são um empecilho para que estas atividades perdurem por mais tempo, conclui ...”

E com relação ao assassinato do fazendeiro Mauro Nascimento dos Santos Barros em Porto Velho, cuja notícia foi veiculada sob título de “LCP aterroriza ...”, a qual nos referimos acima, o que tem se verificado é uma disputa de terras griladas com outros grandes latifundiários, que envolvem altos mandatários do Estado de Rondônia.

Enfim, do que se trata, nesta recente nova onda de denúncias contra o movimento camponês de Rondônia, é de justificar despejos de camponeses de terras da União griladas por latifundiários, acobertar sob clima de terror decisões jurídicas sem nenhum fundamento, atacar o campesinato pobre para acobertar as disputas entre grupos mafiosos que disputam o solo, o sub-solo, as matas e principalmente o poder no Estado de Rondônia, e finalmente soterrar o clamor por justiça que a campanha pela libertação do companheiro Ruço suscitou em Rondônia.

Uma vez mais, contamos com todos, pois o que se revela a cada dia que passa em Rondônia, ao contrário do que apregoam os arautos de que o que nos resta a fazer neste tempo de crises e conflitos é a resignação, é que a justiça e a verdade são poderosas, e vencerão!

Abaixo o processo farsa contra os camponeses Ruço, Caco e Joel!

Pela imediata libertação do companheiro Ruço!

Abaixo a criminalização do movimento camponês de Rondônia!



Um grande abraço aos companheiros do Cebraspo!




Comissão Nacional Coordenadora das Ligas de Camponeses Pobres

Postagens mais visitadas