A GREVE CONTINUA - SERRA A CULPA É SUA

A situação do magistério paulista espelha bem a situação do professor brasileiro. Não bastasse o fato de os salários serem baixíssimos, os profissionais da educação são humilhados e maltratados pelos péssimos governantes desse país. O tratamento indigno dado aos professores encontra também amplo respaldo na grande imprensa e na mídia em geral. É impressionante o número de jornalistas-empresários que se infiltram no meio educacional para fazer fortuna, como o caso do Gilberto Dimenstein confirma.


Criou-se uma caldo de cultura no qual cabe ao professor a exclusividade na falência do ensino brasileiro. O professor é visto como despreparado, desmotivado, usuário de métodos ultrapassados. As políticas educacionais são construídas à revelia do magistério, mas suas péssimas consequências são lançadas nas suas costas.


Fundações suspeitas, empresas intermediárias, assessores picaretas, especialistas em educação sem nenhum caráter, pedagogos do capital, políticos corruptos e governos criminosos aliam-se para estrangular o processo educacional. De um lado, criam uma política educacional feita para iludir os eleitores e possibilitar ganhos para toda a corja que mete a mão nas verbas da educação, desde prefeitos que assaltam verbas da merenda escolar até os grandes intermediários de processos seletivos, passando pelos obscuros mecanismos de fornecimento de material didático, consultorias duvidosas, programas lançados sem qualquer discussão com os diretamente interessados e um arsenal de instâncias pelas quais o dinheiro vai para o ralo.


Por outro lado, tentam esvaziar a figura e a atuação do professor de um modo brutal, valendo-se de vários expedientes. Não é só o salário miserável, inferior ao que um mendigo consegue com esmolas, a causa do problema. Retiram a autoridade do professor, esvaziam deliberadamente a profissão, tentam construir a imagem do mestre como a de um pobre-coitado, um infeliz, um quase-indigente. Além disso, para minar as forças intelectuais da categoria e dificultar a enérgica resposta dos profissionais, atormentam o professor enchendo-o de deveres, atividades, afazeres pedagógicos, burocráticos, de qualquer natureza, a fim de evitar, pela fadiga mais completa, que o indivíduo consiga pensar e enxergar saídas para a sua insuportável situação profissional-existencial. Portanto, a covardia do Estado contra o magistério é algo muito maior e muito mais profundo do que pensam aqueles que se só veem o lado econômico da questão.


O magistério é visto com suspeita desde a época da ditadura. O magistério estimula a reflexão, a consciência crítica, o pensamento. E isso é terrível para o poder. Se o governo precisa apresentar-se para o povo como o provedor de educação para todos, também é quem mais teme a produção de um efeito que significa, na verdade, o seu suicídio: um povo consciente, esclarecido, conhecedor de seus direitos, de sua história, de seu potencial e de seu valor; um povo que não se deixa enganar, ao contrário, um povo capaz de lutar por sua emancipação completa da corja que o governa.


Seguramente os professores tornam-se a cada dia, ainda que muitos não percebam e apesar de direções sindicais oportunistas, atreladas a partidos eleitoreiros, uma categoria chave para o inevitável movimento revolucionário que se aproxima.

Zantonc

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